A conferência de imprensa da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), no passado dia 3 de março em Fátima, gerou fortes reações de variadas vozes da sociedade portuguesa, católicos ou não.
Depois da apresentação dos resultados da Comissão Independente, no dia 13 de fevereiro, o país aguardava da parte dos bispos uma resposta clara e direta. Um rumo a seguir depois de vinte dias de reflexão.
“Compreendo e assumo que não fui feliz. Não correu bem, a comunicação não foi a adequada. Não consegui passar aquilo que levava para dizer”, disse D. José Ornelas, presidente da CEP ao jornal Expresso (10/03).
Para o Presidente da República, a posição da conferência episcopal “foi uma desilusão”. E justifica a sua opinião dizendo os quatro pontos em que a CEP falhou: rápida resposta; assumir a responsabilidade; tomar medidas preventivas; e reparação. Para Marcelo Rebelo de Sousa, a CEP “levou 20 dias a reagir a uma coisa que era imediata”. Mais grave do que isso, foi a fuga à responsabilidade, “qualquer associação desportiva, cultural, instituição social, IPSS, Misericórdia, responde pelos atos que são individuais, ilegais e criminais dos seus membros, como é que não responde a Igreja Católica, por atos praticados por quem, além de invocar o múnus da fé, é representante de uma igreja, certificado, legitimado, mandatado para a sua missão pastoral, como? É incompreensível”.
Sobre a falta de medidas preventivas, o Presidente da República questiona a hesitação dos bispos nesta matéria grave, quando “há bispos que transferem priores [párocos] por causa de questões de dinheiro, guerras locais, de questões de comportamento”.
Quanto à reparação, considera que diante da devastação dos danos morais provocados pelos abusos, “não se consegue restituir aquilo que foi destruído”, mas a reparação pode compensar.
“Agora, não há nada como uma reflexão complementar para reencontrar o caminho que se perdeu nestes 20 dias”, sugere Marcelo Rebelo de Sousa, no final da entrevista à RTP e ao Público (9/03).