Depois do devastador sismo na Síria, a palavra de ordem é “ajudar”

Foto: AIS

Em estado de choque

Depois do terremoto, na madrugada de segunda-feira, dia 6, o medo continua presente no rosto de todos. Há o medo de novas réplicas, o receio pela segurança das casas que não ruíram, o pânico de quem está de mãos completamente vazias depois de ter perdido tudo o que tinha, há o medo do futuro… A Igreja está de mangas arregaçadas a ajudar as pessoas em maior necessidade.

Xavier Stephen Bisits, responsável de projectos da Fundação AIS em Alepo, foi das primeiras pessoas a chegar à cidade logo após o terremoto da madrugada de segunda-feira. Desde então, ele tem procurado inteirar-se das maiores dificuldades que a Igreja enfrenta neste momento tão duro e difícil em que tantas vidas estão em risco. Stephen Bisits fala em pessoas em estado de choque perante a dimensão da tragédia, perante tantos prédios que sucumbiram com o abalo sísmico, arrastando para a morte centenas e centenas de habitantes desta cidade. “Os cristãos vão à igreja à procura de alento. Muitas pessoas têm medo de regressar a suas casas.” Para muitos dos que sobreviveram ao sismo, para muitos dos que não viram as suas casas ruir, há um natural receio pela solidez dos alicerces, das paredes, de tudo. As muitas réplicas que se fizeram sentir depois, não tranquilizaram ninguém. O responsável de projectos da Fundação AIS em Alepo explica que, também aqui, a Igreja está a ter um papel determinante no apoio às populações. Não são só as casas particulares que estão em risco. Todos os edifícios sofreram, de alguma forma, com o impacto brutal do sismo. A Irmã Anne Marie Gagnon é directora do Hospital de São Louis, também em Alepo. Horas depois do terremoto, ela fez uma primeira avaliação sobre o estado do edifício e ficou preocupada. O hospital ficou de pé, mas com danos estruturais. “Há uma parte em que as pedras se deslocaram e temos medo que cedam, mas agora estamos focados principalmente em tratar os feridos”, explicou a responsável pelo maior hospital católico da cidade, uma unidade de saúde que é apoiada pela Fundação AIS. “Acabámos de operar dois feridos”, disse-nos ainda. Eram seguramente os primeiros feridos a chegar à urgência. A cidade estava já num caos. Os que sobreviveram ao sismo têm de viver agora numa cidade em ruínas, cheia dos destroços que sepultaram tantas e tantas pessoas. Não há ninguém em Alepo que não chore a morte de alguém. Toda a cidade está de luto.

Socorro às vítimas

A Igreja mobilizou-se logo no socorro às vítimas. Escolas, igrejas, mosteiros têm estado de portas abertas acolhendo os desalojados. Mas o frio intenso é um inimigo cruel que se faz sentir agora com particular intensidade. D. Joseph Tobji,  Arcebispo Maronita de Alepo, não tem tido um momento de descanso. “É preciso fornecer refeições quentes e cobertores às pessoas, mas depois será necessário dar-lhes um tecto, porque muitas já não podem voltar para suas casas, por  terem ficado destruídas ou porque o prédio ficou fragilizado e é muito perigoso!” O Arcebispo pede-nos ajuda para a reconstrução das casas. “É urgente”, diz, até porque está muito frio. “À noite, a  temperatura chega aos 3 e aos 4 graus negativos… As pessoas não podem ficar ao relento!” Face à tragédia que abalou a Síria, a Fundação AIS avançou logo com diversas iniciativas de apoio à Igreja local. Não há tempo a perder. Todos os projectos de apoio aos Cristãos ganham agora, neste contexto, uma importância ainda maior e precisam de ser reforçados. É o caso dos cabazes alimentares, das roupas quentes que têm sido dadas às populações mais empobrecidas, os cobertores, o leite para as crianças, a ajuda aos idosos, o auxílio médico… Mas agora, a tudo isso, acresce uma nova urgência: a reconstrução das casas que sofreram danos estruturais. Só em Aleppo é preciso reparar mais de 600 habitações. A Fundação AIS tem sido, até agora, a mão amiga da comunidade cristã na Síria. Ao longo dos anos de guerra, a AIS tem ajudado famílias a reiniciarem as suas vidas, tem alimentado a fé incrível deste povo. Agora, mais uma vez, eles precisam de nós. A amizade é assim. Não tem prazo de validade.

Paulo Aido