D. Nuno Brás pede aos consagrados que tenham redobrada atenção ao Espírito Santo e ao seu agir no meio de nós

O prelado agradeceu a presença de tantos irmãos e irmãs que, ao longo dos séculos, implantaram o cristianismo nos nossos corações.

Foto: Duarte Gomes

D. Nuno Brás presidiu na quinta-feira, dia 2 de fevereiro, na Sé, a uma Eucaristia com a qual se assinalaram três “solenidades”: a Apresentação do Senhor, a Festa de Nossa Senhora das Candeias e ainda o Dia do Consagrado.

Na homilia desta celebração, que se iniciou com o habitual benzer e acender das velas/candeias, o prelado vincou que com os seus dons, que são “dons do Espírito”, os consagrados “enriquecem a diocese”.

Ainda assim, pediu-lhes “uma redobrada atenção ao Espírito Santo e ao seu agir no meio de nós”, eles que têm “a missão, a responsabilidade de ser, mais que todos, aqueles que são dóceis ao Espírito Santo” e “a vocação de a todos fazer ver o hoje da salvação: Deus que vem ao nosso encontro, Luz para nos iluminar, glória de todos nós”.

“Possa a ‘Senhora da Luz’ ajudar-vos a todos – ajudar-nos a todos – a, como sucedeu com Simeão e Ana, nos deixemos conduzir pelo Espírito Santo para, hoje como naquele dia, termos a alegria suprema de reconhecer a Cristo que, no meio de nós e em nós, nos conduz à salvação”, frisou.

Mas, na sua reflexão, D. Nuno Brás começou por falar da Apresentação do Senhor no Templo, solenidade que se celebra 40 dias depois do Natal, lembrando que “na festa de hoje prolongamos as celebrações do Natal: o Verbo faz-se carne para que O possamos mais facilmente reconhecer e encontrar”.

Por outras palavras, para que “os nossos sentidos se possam dar conta da sua presença no meio de nós e, desse modo, o nosso coração, percebendo-o assim tão próximo, se possa alegrar e acolhê-lo, deixando-se converter por Ele — que o mesmo é dizer: deixando-se envolver, abraçar, impregnar por esta presença única”.

Luz que ilumina cada homem e mulher

Neste dia, prosseguiu o bispo diocesano, “somos convidados a também dirigir o nosso olhar para a Virgem Maria que traz consigo o Verbo feito carne. Ela, que traz o Menino em seus braços, é a verdadeira Porta do Céu, como gosta de lhe chamar a tradição cristã. É Maria quem no-lo mostra; é Maria quem no-lo apresenta; é nos braços maternais da Virgem que brilha para nós a Luz que ilumina as nações — quer dizer: luz que ilumina cada homem e mulher, e que ilumina toda a humanidade”.

As candeias acesas no início da celebração, acrescentou, “são bem o sinal desta nossa vontade de nos deixarmos iluminar por esta ‘Luz gerada antes da aurora’, e que Maria traz nos braços e nos apresenta”.

A importância do Espírito Santo

D. Nuno Brás convidou ainda a assembleia a contemplar “com um pouco mais de atenção o encontro de Deus com o Seu povo a partir da perspetiva de Simeão e Ana”, narrada no Evangelho, onde se vê claramente que ambos foram movidos pelo Espírito Santo.

“Simeão e Ana personificam o povo anónimo, os “justos e piedosos”, os pobres que, apesar de todas as derrotas, persistem em ver cumpridas as promessas de Deus — aquelas promessas que constituem o verdadeiro motor da história de Israel, e que dão razão de ser a todo o Antigo Testamento”, explicou.

Neles, continuou D. Nuno Brás, “esperar não se trata de teimosia humana e (muito menos) de ignorância de pobres analfabetos. Trata-se da certeza vivida de que Deus jamais abandonará o seu povo”. E também não se trata de “um mero esperar humano: aos crentes, é o Espírito do Senhor quem os faz esperar; e o que eles esperam é Aquele sobre quem repousa o Espírito em abundância, quer dizer: o Cristo, o Ungido, o Messias do Senhor”.

Depois de referir que “o Espírito Santo impede-nos de vivermos como derrotados”, que “não nos deixa ficar parados” e que nos torna a todos “ousados protagonistas” da nossa história e a história do mundo, o bispo do Funchal frisou que “é o Espírito do Senhor quem nos permite reconhecer a salvação que Deus nos oferece, e de aceitar viver nela plenamente, e de ser a sua presença”.

“Sem o Espírito de Deus, jamais seriamos capazes de reconhecer a salvação, tal como seríamos também incapazes de reconhecer o lugar, a missão a que cada um de nós é chamado a exercer em favor de todos. Sem o Espírito, jamais seremos capazes de reconhecer os carismas, as tarefas, as vocações”, vincou.

Datas jubilares

Nesta celebração, concelebrada por D. António Carrilho, por membros do clero diocesano e religioso foram lembradas e lembrados de forma especial, aquelas e aqueles irmãos consagrados que, ao longo deste ano de 2023, celebram datas jubilares.

Coube de novo ao Pe. Fernando Soares, da Congregação da Missão, em representação do secretariado da CIRP – Funchal, “agradecer por esta celebração” e enumerar as jubiladas e os jubilados  a quem foi entregue um Terço das JMJ, para que rezem pelo sucesso destas jornadas.

Assim comemoram Bodas de Prata (25 anos) o Pe. Fernando Gomes, da Congregação da Missão e a irmã Inês de Abreu Gomes da Apresentação de Maria.

Já as Bodas de Ouro (50 anos), pertencem todas à Congregação das irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias. As jubiladas são: Ir.ª Maria Luísa Duenas Vieiros; Ir.ª Maria de Fátima Sousa Rodrigues e Maria Nóbrega Fritas Spínola.

Quanto às Bodas de Diamante (60 anos) temos irmãs das congregações de Nossa Senhora das Vitórias, Apresentação de Maria e Dominicanas de Santa Catarina de Sena, a saber: Ir.ª Maria João Freitas; Ir.ª Rita Paula do Nascimento; Ir.ª Teresa da Encarnação Freitas da Silva; Ir.ª Raquel dos Santos Simão; Ir.ª Maria José da Costa; Ir.ª Humbelina Perestrelo Vasconcelos (65 anos); Ir.ª Maria Adelaide António e a Ir.ª Rosa Maria Olieira Miranda, respetiamente.

A celebrar Bodas de Platina (70 ou 75 anos) temos as irmãs: Maria Margarida de Andrade; Maria da Conceição Caires; Adelina Olim (80 anos) e Maria do Monte (80 anos).

O Pe. Aires Gameiro, da Ordem Hospitaleira de São João de Deus completa também Bodas de Platina (75 anos) e a Irmã Maria Teresa de Jesus Gomes, da Apresentação de Maria, Bodas de Platina também.

Homilia de D. Nuno Brás:

 APRESENTAÇÃO DO SENHOR
Catedral do Funchal, 02 Fevereiro 2023
“Movido pelo Espírito”

  1. Celebramos hoje a Festa da Apresentação do Senhor no Templo. Peregrinando a Jerusalém em finais do séc. IV, Etéria, abadessa de um mosteiro da Galiza, descreve-nos as diversas celebrações dos cristãos da Cidade Santa. Entre elas, refere-se à festa do Hypapante, do Encontro: diz-nos ela que, 40 dias depois do Natal, os cristãos celebram a festa do encontro do Senhor com o seu povo “com tanta alegria como se fosse Páscoa”. E uma antífona bizantina, cantada hoje, convida: “Adorna o teu tálamo ó Sião! Acolhe Cristo, o teu Rei! Dirige-te apressadamente para Maria! Ela é a Porta do Céu, visto que traz entre os braços o Rei da glória, a nova Luz, gerada antes da aurora!”.

Deus vem ao encontro do Seu Povo. Somos, por isso, convidados em primeiro lugar a contemplar este movimento de Deus que toma a iniciativa de vir até nós, de vir ao nosso encontro em carne humana, que toma a iniciativa de se revelar, humilhando-se, baixando até à nossa condição. Neste sentido, na festa de hoje prolongamos as celebrações do Natal: o Verbo faz-se carne para que O possamos mais facilmente reconhecer e encontrar; para que os nossos sentidos se possam dar conta da sua presença no meio de nós e, desse modo, o nosso coração, percebendo-o assim tão próximo, se possa alegrar e acolhê-lo, deixando-se converter por Ele — que o mesmo é dizer: deixando-se envolver, abraçar, impregnar por esta presença única.

Somos convidados a também dirigir o nosso olhar para a Virgem Maria que traz consigo o Verbo feito carne. Ela, que traz o Menino em seus braços, é a verdadeira Porta do Céu, como gosta de lhe chamar a tradição cristã. É Maria quem no-lo mostra; é Maria quem no-lo apresenta; é nos braços maternais da Virgem que brilha para nós a Luz que ilumina as nações — quer dizer: luz que ilumina cada homem e mulher, e que ilumina toda a humanidade. As candeias que acendemos no início desta celebração são bem o sinal desta nossa vontade de nos deixarmos iluminar por esta “Luz gerada antes da aurora”, e que Maria traz nos braços e nos apresenta.

Maria e José cumprem a Lei. Por três vezes, S. Lucas faz essa referência: “Ao chegarem os dias da Purificação, segundo a Lei de Moisés” Maria e José levaram Jesus para o apresentarem “como está escrito na Lei do Senhor”, e para oferecerem duas pombinhas “como está escrito na Lei do Senhor”. A Lei de Moisés encontra-se presente. É, por assim dizer, a razão imediata do primeiro encontro público entre o Verbo feito carne e o povo da Antiga Aliança: a Antiga Aliança conduz a este encontro que marca para toda a humanidade o tempo novo, o tempo do “Deus connosco”.

  1. Mas hoje contemplemos com um pouco mais de atenção o encontro de Deus com o seu povo a partir da perspectiva de Simeão e de Ana. Notemos como Simeão e Ana são movidos pelo Espírito Santo. Com efeito, S. Lucas refere que “o Espírito Santo estava” em Simeão (v. 25), e que lhe revelara que não morreria antes de ver o Ungido, o Messias (v. 26). Por isso aquele ancião “veio ao Templo movido pelo Espírito” (v.27).

Simeão e Ana personificam o povo anónimo, os “justos e piedosos”, os pobres que, apesar de todas as derrotas, persistem em ver cumpridas as promessas de Deus — aquelas promessas que constituem o verdadeiro motor da história de Israel, e que dão razão de ser a todo o Antigo Testamento. Neles, esperar não se trata de teimosia humana e (muito menos) de ignorância de pobres analfabetos. Trata-se da certeza vivida de que Deus jamais abandonará o seu povo.

Na verdade, a primeira qualidade dos “justos e piedosos” é a de esperar, quer dizer: de se encontrarem disponíveis para o agir de Deus na história e na sua vida. Não se trata apenas de cumprir escrupulosamente a Lei e de viver rectamente: aliás, essas suas qualidades não seriam possíveis sem esta abertura, sem a espera pela intervenção, pela presença da Palavra de Deus que dê, finalmente, o sentido ao viver.

Não se trata, pois, de um mero esperar humano: aos crentes, é o Espírito do Senhor quem os faz esperar; e o que eles esperam é Aquele sobre quem repousa o Espírito em abundância, quer dizer: o Cristo, o Ungido, o Messias do Senhor. Com efeito, S. Lucas diz que Simeão, como homem justo, “esperava a consolação de Israel” (em grego, παράκλησιντοῦἸσραήλ [prosdechómenosparáklesintou Israel]), o mesmo é dizer: esperava aquele sobre quem repousava o Paráclito.

É pois o Espírito Santo quem permite aos justos esperar, tantas vezes contra toda a esperança. Porque é presença de Deus em nós e connosco, o Espírito dá àqueles que O acolhem uma certeza íntima que não se deixa abater pelas contrariedades, pelas perseguições ou sequer pelas incapacidades humanas. O Espírito Santo faz-nos esperar porque nos dá a certeza de que Deus jamais nos irá abandonar. O Espírito Santo impede-nos de vivermos como derrotados.

Mas é o Espírito Santo quem move os justos para irem ao encontro do Senhor. Foi assim com Simeão, que foi ao Templo levado pelo Espírito. O Espírito não nos deixa ficar parados, à espera que os acontecimentos venham até nós. Pelo contrário: Ele faz-nos caminhar; é urgência no nosso coração, impedindo-nos a paralisia interior e exterior. Em nós, o Espírito é convite à conversão e ao amadurecimento da fé, tal como é convite à transformação do mundo que nos rodeia, levando-nos a não desistir de o modificar, de o tornar cada vez mais próximo do desígnio, do sonho de Deus para todos. O Espírito torna-nos a todos ousados protagonistas da história: da nossa história pessoal e da história do mundo inteiro.

Por fim, é o Espírito quem mostra a realidade de Jesus como o Ungido, o Messias, o Cristo, o Deus-connosco. Muitos crentes terão estado naquele dia no Templo de Jerusalém. Mas, para a grande maioria, Maria e José eram apenas mais um casal entre tantos que vieram ao Templo apresentar o seu Primogénito, cumprindo a Lei de Moisés. A esmagadora maioria presenciou aquele acontecimento sem se dar conta do que estava a suceder, do significado profundo daquela hora.

Apenas aqueles dois justos e piedosos, velhos mas cheios do Espírito Santo, apenas eles foram capazes de reconhecer o sublime mistério do encontro entre Deus e o Homem! Sem o Espírito do Senhor, tudo é apenas o correr dos dias. Sem o Espírito do Senhor, os dias passam com as horas, iguais e monótonos, prisioneiros dum tempo circular, fechado sobre si. Apenas o Espírito nos permite viver percebendo a íntima realidade do acontecimento e dos seus protagonistas. Apenas o Espírito nos permite discernir a presença de Deus e, com ela, o sentido da história e a sua meta definitiva. Apenas o Espírito nos torna peregrinos da eternidade. Apenas o Espírito nos torna cidadãos do mundo novo, inaugurado pela presença do Cristo de Deus.

Em definitivo, é o Espírito do Senhor quem nos permite reconhecer a salvação que Deus nos oferece, e de aceitar viver nela plenamente, e de ser a sua presença. Sem o Espírito de Deus, jamais seriamos capazes de reconhecer a salvação, tal como seríamos também incapazes de reconhecer o lugar, a missão a que cada um de nós é chamado a exercer em favor de todos. Sem o Espírito, jamais seremos capazes de reconhecer os carismas, as tarefas, as vocações.

Queridos consagrados, que enriqueceis esta nossa diocese do Funchal com os vossos dons — que são dons do Espírito. Que mais vos posso pedir, enquanto o Sucessor dos Apóstolos à volta de quem se reúne a Igreja nesta nossa Ilha, que mais vos posso pedir senão uma redobrada atenção ao Espírito Santo e ao seu agir no meio de nós? Sois, todos vós, sentinelas do Espírito. Tendes a vocação — que o mesmo é dizer: a missão, a responsabilidade — de ser, mais que todos, aqueles que são dóceis ao Espírito Santo. Tendes a vocação de a todos fazer ver o hoje da salvação: Deus que vem ao nosso encontro, Luz para nos iluminar, glória de todos nós.

Possa a “Senhora da Luz” ajudar-vos a todos — ajudar-nos a todos — a, como sucedeu com Simeão e Ana, nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo para, hoje como naquele dia, termos a alegria suprema de reconhecer a Cristo que, no meio de nós e em nós, nos conduz à salvação oferecida a todos os povos.