Unidade dos Cristãos

D.R.

Depois da pandemia, já não somos os mesmos. Aprendemos a olhar além do imediato e da aparência e a ver o essencial. Aprendemos que existe uma dimensão mais profunda, interior, em nós e nos outros. Ganhámos consciência da fragilidade com que somos feitos e da importância do outro, com quem partilhamos o espaço e o tempo. “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos” (Principezinho, Saint-Exupéry) .

A pergunta que Deus faz a Caim no Livro dos Génesis recorda-nos a maior das responsabilidades: “Onde está o teu irmão Abel?” (Gn 4, 9). 

No poema “A leste do Paraíso”, Ana Luísa Amaral permite-nos ouvir a voz de Caim, que pensando ser livre, mata o seu irmão, e fica só.

“Antes ser tudo e livre
do que bom mas humilde
Assim pensara então
e agira
E o oriente lhe foi destinado:
terra de mil castigos
de difíceis colheitas; mais
suor,
Só depois descobriu
que lá o sol nascia
e que podia falar das coisas
todas
Mas com quem?”  

Estamos na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Este ano o tema é inspirado nas palavras do profeta Isaías “Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça” (Is 1, 17). Isaías denuncia a hipocrisia de um culto religioso esvaziado do cuidado pelo pobre. “Quando levantais as vossas mãos, afasto de vós os meus olhos; podeis multiplicar as vossas preces, que Eu não vos atendo. É que as vossas mãos estão cheias de sangue” (Is 1, 15). 

Procurar a justiça é defender o oprimido, denunciar as estruturas de corrupção, construir mecanismos de defesa dos que não têm força para erguer a sua voz. 

As igrejas cristãs, com diferenças, podem oferecer juntas este testemunho de unidade na defesa dos que se sentem excluídos: “Apesar de estarmos ainda a caminho para a plena comunhão, já temos o dever de oferecer um testemunho comum do amor de Deus por todas as pessoas” (Declaração conjunta do Papa Francisco e do Patriarca Ecuménico Bartolomeu, 2014).