Bispo do Funchal considera que entre a história do Beato Carlos e a de Jesus há uma relação bastante clara 

D. Nuno explicou esta sua reflexão lembrando, por exemplo, que ambos foram abandonados em alturas cruciais das suas vidas e que ambos foram atraiçoados.

Foto: Duarte Gomes

O bispo do Funchal presidiu ao fim da tarde de sexta-feira, dia 1 de abril, à Eucaristia Diocesana com a qual se assinalou o centenário da morte do Beato Carlos isto depois de, na parte da manhã, ter presidido à Missa Pontifical na Sé, com a mesma a intenção.

Na sua homilia, o prelado começou por explicar o que é um santo, referindo que se trata de “um cristão onde a presença de Jesus Cristo vivo e ressuscitado se mostra de forma mais perfeita, mais clara”.

Ora, no entender de D. Nuno Brás, “foi precisamente isso que fez com que o Beato Carlos, há cem anos, fosse já objeto de tanta admiração e até mesmo de tanto acolhimento nesta nossa ilha”. 

Por outras palavras, “podemos encontrar na história do Beato Carlos uma relação e uma relação bastante clara com a história de Jesus”. E explicou o que o leva a pensar assim. Primeiro “quando Jesus começa a anunciar o Evangelho, a dizer e a mostrar a presença do reino no meio do seu povo, todos vão ter com Ele, todos querem escutar aquele pregador”. 

Contudo, a dada altura, “quando se começa a desenhar a necessidade de sofrer a morte e a morte na cruz, Jesus começa a ser abandonado”.

“Se vermos bem a vida do Beato Carlos tem esta mesma curva. O Beato Carlos nasce num tempo de palácios, príncipes e princesas com um casamento feliz e feliz para sempre”, explicou D. Nuno, para logo lembrar que “depois chega a I Guerra Mundial e Carlos, segundo um escritor contemporâneo, torna-se obcecado pela paz, por fazer a paz”.

Nesta altura, tal como Jesus, “Carlos começa a não ter seguidores, a ficar sozinho, é atraiçoado pelos lideres e não pelo seu povo” e obrigado ao exílio aqui na ilha, com pouco mais do que a roupa que trazia no corpo.

De resto, “ao lermos as narrativas da morte deste Santo imperador, verdadeiramente, encontramos ali a pessoa de Jesus, que se entrega nas mãos do Pai”. Aliás, no leito da sua morte Carlos diz a Zita que toda a sua vida se resumiu em “procurar conhecer, o melhor possível, a vontade de Deus para depois a pôr, o melhor possível em prática”.

“Como Jesus ressuscitado, vivo, presente no meio de nós que celebramos todos os dias, porque toda a nossa vida cristã é esta celebração da morte e da ressurreição do Senhor, também hoje aqui nos reunimos para celebrar a vida de Jesus Ressuscitado, presente no Beato Carlos, ele que é testemunha da Ressurreição do Senhor, testemunha de que Jesus não é um passado de há dois mil anos, mas é um presente, um presente de há cem anos, um presente hoje”, constatou D. Nuno.

A terminar a sua reflexão o prelado convidou a assembleia, no meio da qual se encontravam representantes das principais autoridades civis e militares da Região e ainda alguns peregrinos da Hungria, República Checa e da Eslováquia, a desejar que “o Beato Carlos, o seu exemplo, a sua intercessão nos ajude a deixar que na nossa vida se forme a imagem de Jesus e que também em nós, na nossa vida, esta presença de Jesus ressuscitado seja clara, não apenas para nós, interiormente, mas também publicamente para todos aqueles que se encontrem connosco”.

“Que o exemplo e a intercessão do Beato Carlos nos ajude também a nós a caminharmos nas vias da santidade”, concluiu o prelado que, em momento próprio, se dirigiu à capela onde se encontram os restos mortais do Beato, onde depositou uma coroa de flores em nome de todos os diocesanos e onde rezou a oração do beato acompanhado por toda a assembleia.

Antes da bênção final, coube ao Pe. Vitor Sousa, pároco do Monte e membro da comissão diocesana nomeada para as comemorações do centenário, “agradecer a todos quantos trabalharam, se envolveram, se dedicaram, colocaram os seus talentos a render para que as celebrações, sobretudo estas na igreja de Nossa Senhora do Monte, pudessem ter esta dignidade” e às autoridades que também se envolveram desde o Governo à Câmara passando pela junta de freguesia.

Agradeceu depois a D. Nuno Brás, que concelebrou esta Eucaristia com o bispo emérito D. António Carrilho, “pela sua presença e por nos animar a fé como pastor que é da nossa diocese, com a intercessão de Nossa Senhora do Monte e de Beato Carlos”.

A terminar, duas notas de reportagem para sublinhar dois episódios distintos ocorridos durante esta celebração. A primeira vai para o facto de D. Nuno Brás ter usado – já o tinha feito de manhã na Sé – uma casúla que foi oferecida à Paróquia do Monte pela Imperatriz Zita, a fim de que fosse usada quando se celebrassem acontecimentos que tivessem a ver com o marido.

Quanto à segunda nota vai para a entrega, no momento do ofertório, da bata que o Dr. Agostinho Cardoso usou na primeira inumação do corpo de Carlos da Áustria. 

A mesma, leu-se na altura, “guarda a memória física deste momento e algumas gotas de sangue do Beato Carlos”. Entregue por uma das filhas do Dr. Agostinho Cardoso, a quem a mãe antes de falecer incumbiu de tal tarefa, espera-se que esta bata continue a ser “objeto de devoção, como o tem sido no seio da família Almada Cardoso”.

Espera-se igualmente que “continue a ser objeto da mesma fé que presidiu aos momentos em que esta bata acompanhou os doentes da família e lhes transmitiu a força e o amor do Beato Carlos”.