Bênção da estátua da Madre Virgínia: Hoje o Funchal presta homenagem a uma das suas filhas mais ilustres

Foto: Duarte Gomes

Teve lugar ao início da tarde desta segunda-feira, dia 17 de janeiro, a cerimónia de descerramento da placa toponímica e da bênção da estátua que homenageia a Madre Virgínia Brites da Paixão, colocada na nova rotunda de Santo António, que a partir de hoje tem o nome da homenageada, que faleceu precisamente neste dia há 93 anos.

Numa breve intervenção, D. Nuno Brás lembrou que “hoje o Funchal presta homenagem a uma das suas filhas mais ilustres”, que perante um governo que perseguia a fé e que destruiu o seu mosteiro, “teve a coragem de lutar pelos direitos de Deus e pelos direitos do homem”, afirmando que “uma sociedade sem Deus se entrega facilmente ao domínio dos mais fortes, dos mais poderosos ou dos que gritam mais alto”. 

A religiosa afirmou também, continuou D. Nuno Brás, “que o homem precisa de Deus e que todos têm o direito de ver respeitadas as suas convicções religiosas” e “fê-lo através do exemplo quotidiano descendo todos os dias o longo percurso que separava a sua casa, no Lombo dos Aguiares, até à igreja de Santo António, confortando pelo caminho os pobres, os tristes, os que sofriam”. A todos, lembrou, “dava ânimo, um ânimo que, vivendo ela na extrema pobreza apenas lhe podia vir de Deus, aquele Deus que todos os dias ela escutava, com quem todos os dias dialogava”.

Os habitantes do Funchal, salientou o bispo diocesano, “habituaram-se a olhar para a Madre Virgínia como um sinal da presença de Deus, mas também como um convite e exemplo ao amor do próximo”, para logo desejar aos “que quotidianamente aqui passarem sejam capazes de colher o seu exemplo, exemplo de resistência à perseguição e às injustiças e afirmação dos direitos de Deus e dos direitos do homem de partilha e entreajuda”.

Por fim, D. Nuno frisou que “estamos gratos à Câmara Municipal do Funchal por este gesto de reconhecimento da figura da Madre Virgínia, que constitui uma aspiração de tantos funchalenses e não só e também por este gesto de sã convivência entre o testemunho da fé e o mundo do trabalho, da vida quotidiana, da cidade” lembrando que “olhar para a Madre Virgínia é deixarmo-nos todos os dias lembrar o nosso dever de cuidar do próximo, animados pela fé” e desejando “que todos aqueles que por aqui passarem sejam capazes de colher esse exemplo tão importante para os dias de hoje”.

Momento histórico

Já Conceição Freitas da Associação da Madre Virgínia em União com o Imaculado Coração de Maria, disse que esta mesma associação “tem a honra e a alegria de ter colaborado com o povo nesta iniciativa em homenagem à Madre Virgínia Brites da Paixão, com este monumento, que é também a primeira estátua dedicada a uma mulher madeirense na sua terra”.

“Este é um momento histórico da nossa freguesia e também da nossa região”, sublinhou Conceição Freitas, para logo acrescentar que “ele só foi possível com a colaboração de um grande número de pessoas da Madeira e do Porto Santo e de uma colaboração dos Açores”. 

Este foi um projeto que nasceu em 2014, “quando as pessoas que formaram o Grupo de Oração pela Beatificação da Madre Virgínia, manifestaram vontade de a homenagear e enviaram um pedido de apoio à junta de freguesia de Santo António para que um dia fosse possível construir um monumento, estátua ou busto”. 

Quando a 4 de Outubro de 2018, o pedido do Dr. Rui Barreto foi aprovado, na Assembleia Municipal do Funchal, “sentimos que era a realização do nosso desejo e metemos mão à obra”, realizando muitas ações “de divulgação da pessoa e da missão da Madre Virgínia”, pedidos de patrocínio a particulares e a empresas”.

Tudo para homenagear uma mulher que “ficou na história da Região como uma mulher para tempos difíceis” e cuja estátua, da autoria de Maria José de Brito, mostra algumas das suas principais características como a serenidade do seu olhar, o seu sorriso e as mãos na posição correta para atrair a misericórdia de Deus.

Quanto ao facto da estátua estar voltada para a igreja, Conceição Freitas explica que assim tinha de ser porque “era esta a orientação dos seus passos diariamente”.

Exemplo de dedicação à causa social 

Quanto ao presidente da Câmara do Funchal admitiu estar a viver «um dia histórico para o Funchal, para a freguesia de Santo António e para a Madeira». 

Pedro Calado lembrou que a Madre Virgínia foi um «exemplo de devoção à causa social, tendo dedicado a sua vida à causa dos mais desfavorecidos». 

O autarca frisou ainda que «uma vida sem fé é uma vida pobre, mas a fé sem obras ainda mais pobre fica», sublinhando que com a cerimónia de hoje, a CMF quis transmitir à população «que estamos todos juntos por uma causa, o trabalho pelo próximo, o trabalho pelos mais desfavorecidos e o trabalho pelo reconhecimento deste grande exemplo de vida que nos tem de manter a todos».

Exemplo de valores que temos de seguir

Por sua vez o presidente do Governo Regional considerou que “a Madre Virgínia é o exemplo dos princípios e dos valores que no presente e no futuro todos temos de seguir”. De resto Miguel Albuquerque sublinhou as qualidades de Madre Virgínia, lembrando que, tal como referiu a presidente da Associação Madre Virgínia, era uma mulher para os tempos difíceis.

«Estamos há quase dois anos a atravessar uma grande provação e um grande desafio. E temos sabido, enquanto povo, manter a esperança, a interajuda, a determinação e a coragem para enfrentarmos em conjunto esta grave crise sanitária, que também tem afetado a nossa vida económica, a nossa vida familiar, a nossa vida social e, inclusivamente, toda a nossa estrutura e a nossa vivência coletiva», lembrou.

Segundo o governante, «a Madre Virgínia é um símbolo da esperança que temos de manter nos nossos corações». Porque, acrescentou, «uma sociedade civilizada, uma sociedade desenvolvida deve sempre manter a solidariedade, a entreajuda, a empatia e a construção de projetos comuns». Até porque “nada se consegue sozinho em sociedade. Uma sociedade narcisista em que cada um vive para si próprio é uma sociedade que não tem futuro”.

O líder madeirense lembrou ainda que ninguém leva nada deste mundo, mas que se pode deixar «o exemplo, a educação e os princípios a legar às novas gerações». Esses princípios, sublinhou, devem assentar sempre «no respeito mútuo, na entreajuda e na importância de todos percebermos que todos somos iguais, neste mundo e que sozinhos não vamos a lado nenhum».

Finalmente, Miguel Albuquerque apelou, na sua intervenção, a que todos voltemos «a refletir sobre esses grandes princípios, num mundo em que tudo é hoje precário, instantâneo, tudo aparece na Internet» e concluiu afirmando que «os grandes princípios são inalteráveis e fundamentais para a construção de um futuro coletivo melhor para todos nós».