“Temos o convite a continuar a missão da Madre Virgínia”

Conceição Freitas apresenta a história da “menina do anel invisível”

O livro “Virgínia, a menina do anel invisível” da autoria de Conceição Freitas com ilustração de Sofia Reis, foi apresentado no final do mês de maio com o objetivo de dar a conhecer às crianças a vida e obra da Madre Virgínia Brites da Paixão, religiosa clarissa, cujo processo diocesano para a beatificação está em fase conclusiva. 

Ao Jornal da Madeira a autora apresentou a mensagem deste livro infantil que também pretende chegar a outros públicos.   

Quem é a menina do anel invisível?

Conceição Freitas – Geralmente as pessoas perguntam quem é a Madre Virgínia. A verdade é que ela é um bocado desconhecida. O título que fui buscar, “Virgínia, menina do anel invisível”, era mais um título que envolve mistério e que dá a entender que falamos de uma criança, de uma menina. Quando me perguntam quem é a Madre Virgínia, eu respondo que a Madre Virgínia será, mas já é, a nossa santa madeirense, a primeira santa madeirense, quando for reconhecida pela Igreja.

 Como nasceu a ideia de escrever um livro para crianças?

Conceição Freitas – Uma das iniciativas que a Associação fez foi uma exposição com doze quadros/roll-ups, de 2 metros de altura, com a vida da Madre Virgínia. O que reparava é que, nas igrejas onde se fazia a exposição, as crianças da catequese gostavam de ouvir a história da Madre Virgínia e faziam perguntas. E sentia-me feliz, uma vez que fui professora durante muitos anos. Sentia-me feliz e à vontade para contar a história da Madre Virgínia. A história da Madre Virgínia em pequenina atraía muitas crianças, mas, entretanto, apareceu o Covid e ficámos confinados. Começou a aparecer em mim a ideia de escrever para chegar às crianças.

Foto: Jornal da Madeira

Pedras Vivas 27 de junho de 2021 (A4)

Pedras Vivas 27 de junho de 2021 (A3)

E ao nível das gravuras? 

Conceição Freitas – Nós contactámos a editora da Académica da UMA. Primeiro mandei o texto para ver se tinha a ver com a finalidade da editora. Lá apreciaram e disseram que estava dentro do âmbito das suas publicações, por se tratar de uma história verdadeira, de uma personalidade madeirense que foi muito importante no seu tempo. Depois a editora desenvolveu o resto dos trabalhos, no sentido de contactar a ilustradora. A minha filha deu uma sugestão de uma ilustradora boa para este livro, uma vez que já tinha visto o trabalho da Sofia Reis, que é uma jovem que terminou agora o curso de design na universidade, e que tinha gostado muito, sobretudo um livro sobre Santa Cruz. Depois houve um diálogo muito intenso entre nós, através de um elemento da editora, o Dr. Carlos Diogo que fez a ponte. 

“Com este livro, temos o convite a continuar a missão da Madre Virgínia, que é a devoção ao Imaculado Coração de Maria”.

O que dizem as crianças sobre o livro?

Conceição Freitas – Eu tenho recebido ecos através de pais e de catequistas, primeiro, que as gravuras encantam. Até aos mais pequeninos, os pais contam a história só através dos desenhos. Aos maiores, sei de uma menina que leu e disse: “eu tenho de voltar a ler este livrinho”. É uma boa notícia, um feedback muito bom para nós. 

Que mensagem o livro quer transmitir?

Conceição Freitas – Nós sabemos que está em primeiro plano a missão da Madre Virgínia, isso era importante. Mas a Madre Virgínia não nasceu Madre, foi criança. E podemos tirar muitas ilações da sua caminhada. Ela é uma menina que nasceu numa família numerosa. Se a 9.ª menina da família não tivesse nascido, nós não tínhamos uma história para contar, de uma personalidade tão importante em relação à espiritualidade. No livro há uma imagem da família reunida à volta da mesa, em oração, antes da refeição. Já se vai perdendo este hábito e este costume, mas pode ser novamente reativado. 

A menina do anel invisível, para além do mistério porque tem um anel que é invisível, também nos quer dizer que no batismo cada criança faz uma aliança com Jesus para a vida toda. Outro elemento que podemos retirar desta história é sobre a primeira comunhão. Geralmente dizemos aos meninos: “hoje vais receber Jesus no teu coração”. Mas ao ler a história da Madre Virgínia podemos também dizer às crianças da primeira comunhão: “oferece o teu coração a Jesus”. É uma perspetiva um bocadinho diferente. Sobre o sacramento da reconciliação, o que quis sublinhar é que ela saía da confissão muito feliz. É isto que as crianças têm de sentir: que foram à confissão e que saem felizes e alegres. Eu trabalhei um bocado na noção do pecado antes de escrever. Eu substituí a palavra pecado por “falta de amor”. Penso que a criança compreende melhor. 

A história da Madre Virgínia também me chamou a atenção para os “amigos do céu”, eu nunca tinha pensado nisto antes. Eu tenho os meus santos preferidos, mas ter escolhido aqueles amigos, foi com a Madre Virgínia que eu aprendi. Acho que as crianças podem escolher “amigos do céu” para as protegerem e para aprenderem a escolher os amigos da terra. 

A primeira preocupação da Madre Virgínia era cumprir a vontade de Deus. Era uma obediência cega à vontade de Deus e isto é o segredo da felicidade dos cristãos. Uma coisa que ela fazia era empenhar-se com alegria nas tarefas religiosas.

Com a Madre Virgínia vemos que há milagres. Ela foi atendida por Santa Teresinha na noite em que Santa Teresinha tinha morrido, do dia 31 de setembro para o dia 1 de outubro de 1897. A Madre Virgínia não a conhecia, simplesmente tinha pedido a Nosso Senhor que lhe mandasse a primeira alma que subisse ao céu para cuidar dela, e veio Santa Teresinha do Menino Jesus. Isto é um milagre. A verdade é que se curou em muito pouco tempo. No dia 4 foi à festa de São Francisco. 

Quando tudo parecia bem na vida da Madre Virgínia, vem Nosso Senhor com as suas surpresas. Quando menos esperava, batem à porta para fecharem o mosteiro. É preciso estarmos preparados para estas surpresas. E como se aceita estas surpresas? Só cultivando uma grande espiritualidade e saber que outros santos já deram testemunho disso. Quem lê a vida dos santos, a hagiografia, vê que o Senhor surpreende. Às vezes com coisas muito boas, mas às vezes também com provas. Aí tem de mostrar que tem maturidade de fé, que é resistente, que é resiliente. Tem de mostrar essas capacidades todas que ganhou ao longo da vida, não foi só num dia.

“A menina do anel invisível, para além do mistério porque tem um anel que é invisível, também nos quer dizer que no batismo cada criança faz uma aliança com Jesus para a vida toda”.

A Madre Virgínia fazia da Eucaristia e da oração o remédio. Ainda hoje, quem tiver dificuldades, e também tenho passado pelas minhas, é na oração e na Eucaristia que realmente podemos encontrar a força para continuar. Muitas vezes ficamos “sem chão”, é verdade, mas quem tiver amor à Eucaristia vem sempre confortado para casa, com uma força renovada para trabalhar e continuar. 

Com este livro, temos o convite a continuar a missão da Madre Virgínia, que é a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Em Fátima temos a declaração de Nossa Senhora: “por fim o meu Imaculado Coração triunfará”. Temos de fazer todo o possível para isto ser concretizado. 

Que conselhos podia dar aos pais nesta missão de acompanhar as crianças no caminho da fé? 

Conceição Freitas – Os pais são fundamentais. Conheço pais que no caminho de casa à escola rezam com os filhos aquelas orações que antigamente todos conheciam, como a consagração a Nossa Senhora. O que se nota é que muitos pais dizem que não têm tempo. É verdade. Mas também é preciso aproveitar o tempo e dizer: “Eu tenho que falar disto ao meu filho”. No tempo que os pais têm com os filhos podem dar a educação religiosa. A história do Menino Jesus… é uma figura tão apaziguadora para as crianças que não se compara com nada. A sua história é uma felicidade para a criança ouvirem. Ainda há dias dizia uma pessoa: “Eu sou muito solicitada para muitas coisas durante o dia, mas na minha agenda ponho sempre o tempo para a família”. Isso é muito importante. 

Considera que as crianças também têm um papel na Igreja?

Conceição Freitas – Uma das coisas que me chamou a atenção na menina Virgínia é que ela não entrava na sala de aula sem visitar a igreja. A importância que ela já dava, de pequenina, de passar pela igreja e cumprimentar o Menino Jesus. Quando vemos uma criança fazer isso, sem querer ela está a educar a comunidade. Uma criança que ao passar à frente do sacrário flete um joelhinho ensina muita gente que passa a correr à frente do Santíssimo. Um dia alguém me disse: “Tu ainda acreditas que Nossa Senhora de Fátima veio pedir para rezar o terço às crianças?”. Eu disse: “Acredito! Veio envergonhar os adultos”. O terço é uma oração tão bonita, já dizia S. João Paulo II. Eu costumo pôr uma cadeirinha à frente e digo: “Nossa Senhora agora vai sentar-se aqui”. Isto é uma coisa bonita para dizer à criança”. O adulto abstrai, sabe que Nossa Senhora ouve a nossa oração, mas dizer a uma criança: “puxa uma cadeirinha para aqui que vamos rezar uma Avé Maria”. A criança tem um papel importante, hoje mais do que nunca, de chamar a atenção das pessoas para as coisas sagradas. Uma criança educa uma assembleia. 

“Uma das coisas que me chamou a atenção na menina Virgínia é que ela não entrava na sala de aula sem visitar a igreja. A importância que ela já dava, de pequenina, de passar pela igreja e cumprimentar o Menino Jesus. Quando vemos uma criança fazer isso, sem querer ela está a educar a comunidade”.

Pode falar-nos do monumento à Madre Virgínia? 

Conceição Freitas – Estamos a desenvolver uma estátua à mulher madeirense, porque ainda não está reconhecida pela Igreja como uma santa, embora todos nós saibamos que é santa. Mas à mulher que teve um papel importantíssimo na espiritualidade, e não só. As pessoas corriam à casa da Madre Virgínia, subiam aquela encosta tão íngreme para ir lá acima expor os seus problemas. Com as suas palavras e simplicidade indicava o caminho da oração e o coração da mãe, para a mãe pedir ao seu filho, ao Sagrado Coração de Jesus. Esta mulher teve um papel importante, humilde, quase invisível, mas que as pessoas reconheciam. Vinha gente de toda a ilha falar com a irmã. Ainda hoje as pessoas recorrem à Madre Virgínia. 

Pensamos, ao escrever este livrinho, que tem de ser transformado em donativos para concretizar a estátua. Já a mandamos fazer. A estátua tem dois metros de altura, é feita em bronze, e o bronze é caro. Será colocada numa rotunda ao cimo da avenida das Madalenas, com saídas para o campo do Marítimo e para a igreja de Santo António. 

Estamos a ir às paróquias e falamos sobre a Madre Virgínia, e explicamos o nosso objetivo de realizar uma homenagem feita pelo povo. Ainda hoje em dia as pessoas pedem graças à Madre Virgínia e obtêm. Eu obtive uma muito grande para a minha mãe, daí que estou à vontade para dizer: “Peçam graças à Madre Virgínia”.