Na quinta-feira, produtores de vinho franceses acenderam milhares de velas que iluminaram com o seu brilho alaranjado as vinhas ameaçadas pelas fortes geadas de primavera.
Bastam poucas noites com temperaturas abaixo de cinco graus negativos para prejudicar os rebentos já bem desenvolvidos e provocar danos irreversíveis. “A colheita está em jogo”, disse o enólogo Laurent Pinson, que colocou mais de 300 grandes velas, feitas de latas de parafina, nos seus 14 hectares de vinhas situadas em Chablis.
“A procissão de velas que enche, à noite, hectares de vinha no Oeste de França, nas zonas de Bordéus e Borgonha, esconde o drama de dezenas de vitivinicultores franceses, que tentam salvar as colheitas, surpreendidos por uma vaga de frio tardia que ameaça as videiras, já com os cachos em formação” escreveu o Jornal de Notícias (08-04-2021).
“O clima está a mudar e a vinicultura provavelmente será o primeiro cultivo a ser afetado pelas alterações climáticas. Os ciclos de cultivo estão cada vez mais curtos”, disse o enólogo.
Os vinhateiros tudo fazem para proteger as vinhas. Para além das velas, também queimam fardos de palha formando cortinas de fumo que protegem os brotos congelados dos raios de sol das primeiras horas da manhã e até instalam aquecedores e torres eólicas, que misturam o ar frio próximo ao solo com o ar mais quente, que circula mais acima.
Esta imagem do cuidado pela vinha recordou-me o cântico do profeta Isaías que diz: “A vinha do Senhor do universo é a casa de Israel” (5, 7).
A Igreja “foi plantada pelo celeste agricultor como uma vinha eleita”, escreveu o Concílio Vaticano II (LG 6). Uma vinha que requer dos trabalhadores muita dedicação, especialmente em tempos de frio e geada, onde os cachos mais frágeis, doentes, abandonados e descartados precisam de cuidado. “Se vejo faltar o chão ao pobre / não me calo por nada deste mundo / e determinado faço o que posso”, escreveu o padre José Luís Rodrigues ao terminar o livro “Pedaços de Esperança”.
Cuidar da vinha é servir o próprio Cristo, que disse “Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor” (Jo 15, 1) e ainda “Eu sou a videira; vós os ramos”.