Vigília Pascal: Bispo do Funchal pede aos fiéis que caminhem iluminados por Cristo ressuscitado

Foto: Duarte Gomes

O bispo do Funchal pediu aos fiéis da diocese que se deixem “invadir pela luz fulgurante que, rompendo (hoje como na primeira Páscoa) as trevas do pecado, nos envolve com a vida divina, dirige o nosso olhar para Deus e para a realidade do mundo, ao mesmo tempo que nos confirma a meta gloriosa que nos aguarda” e que caminhem, sem medo, “iluminados por Cristo ressuscitado”.

O apelo foi feito na homilia da Vigília Pascal a que D. Nuno Brás presidiu este sábado, dia 3 de abril, na igreja da Boa Nova, que por ter sido celebrada após o recolher obrigatório decorreu à porta fechada, mas com transmissão em direto pela RTP-Madeira.  

Numa reflexão baseada precisamente no tema “A luz de Cristo!”, o prelado começou por lembrar que nesta noite “celebramos a luz daquele que, ressurgido das trevas do sepulcro e vencedor do pecado e da morte, salva, transformando toda a realidade, oferecendo-lhe a Verdade como luz e sentido.”  

Depois de sublinhar que “Cristo foi a Palavra que o Pai proferiu ao criar o universo” e que “Ele está presente em tudo”, o prelado lembrou que “todo o universo existe para Ele — toda a evolução, todo o caminho do mundo têm uma meta: Cristo.” 

O drama da existência humana, explicou mais adiante D. Nuno Brás, “encontra em Cristo ressuscitado a luz que lhe revela o sentido. Desde o milagre da concepção e nascimento de um ser humano, passando pelo mistério do sofrimento e da dor, às alegrias das conquistas e vitórias: à luz de Cristo ressuscitado, tudo é iluminado com a luz da vida eterna — a luz da vitória sobre o pecado e a morte.” 

D. Nuno Brás prosseguiu explicando que “Cristoressuscitadoé a luz do bem e da generosidade, isto é, “luz que permite ver com verdade o rosto do próximo e nos deixa interpelar por ele e pelas sua necessidades”, é “luz que dá ao mundo novas cores, as cores da vida eterna”, é “luz que permite a fé e nos faz subir mais alto e ver mais longe; é luz que nos permite a ousadia de chamar a Deus por “Pai Nosso”; é luz que nos resgata da escuridão e nos permite estar diante de Deus como filhos.” 

É a luz que, “destruindo as nossas sombras e trevas, nos resgata de uma vida mediana e sem sabor, para nos conduzir a uma vida cheia de sentido, no serviço de Deus e dos irmãos” e que “dá coragem não só para nos convertermos a nós como também para mudar o mundo, para o ir divinizando, transformando-o cada vez mais de acordo com o sonho de Deus”. 

Cristo ressuscitado, explicou ainda D. Nuno, “é luz que reúne a Igreja, e faz de nós todos, saídos das águas do batismo, membros uns dos outros, membros do seu corpo”. 

“Caminhemos, sem medo, iluminados por Cristo ressuscitado, vigilantes neste dia que jamais se extingue, e que terá o seu ponto glorioso no definitivo, escatológico, aguardado regresso do Senhor”, pediu ainda o bispo diocesano a concluir a sua reflexão.

Recorde-se que a Vigília Pascal é considerada a mãe de todas as vigílias por realizar-se na noite em que Cristo passou da morte à vida. Esta celebração possui quatro partes: a liturgia da luz ou lucernário, momento em que o presidente da celebração procede à bênção do fogo novo, à qual se segue o acender do círio pascal e a partir deste o de cada um dos membros da assembleia que até então permanece na escuridão; a liturgia da Palavra; a liturgia batismal; e a liturgia eucarística.   

Leia na íntegra a homilia do bispo do Funchal:

VIGÍLIA PASCAL

3 de Abril de 2021

Igreja da Boa Nova (Funchal – RTP)   

“A luz de Cristo” 

“A Luz de Cristo!” — “Graças a Deus!”. Foi deste modo que iniciámos a nossa vigília, a celebração central de todo o ano litúrgico, onde todas as outras celebrações encontram a sua razão de ser — porque todas elas, embora espalhadas pelo tempo e pelas nossas situações existenciais, são a celebração da Páscoa de Cristo. 

“A luz de Cristo!”: celebramos, hoje, a luz daquele que, ressurgido das trevas do sepulcro e vencedor do pecado e da morte, salva, transformando toda a realidade, oferecendo-lhe a Verdade como luz e sentido. “De nada nos serviria ter nascido se não tivéssemos sido resgatados!” — cantávamos há pouco, no solene Anúncio da Páscoa.  

À luz de Cristo ressuscitado, percebemos como, nele, “foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis […]. Tudo foi criado por Ele e para Ele”, como afirma S. Paulo, no célebre hino da Carta aos Colossenses (Col 1,16). 

A história da humanidade — história das civilizações, das conquistas e descobertas, tecida de generosidade mas igualmente marcada pelo mal, pelo egoísmo e pelo pecado — a história da humanidade, recebe o seu motor (a sua energia, o seu dinamismo, o centro que tudo atrai para si), da luz, da vida de Cristo ressuscitado: até que já não exista mais “grego ou judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo ou livre, mas Cristo que é tudo em todos”, diz-nos também S. Paulo (Col 3,11; cf. 1Cor 15,24-28).  

Mesmo que sem terem consciência disso, os protagonistas da história humana (heróis recordados por todos ou simples desconhecidos) — todos nós, cristãos ou não — todos constroem ou destroem em relação à vitória definitiva de Cristo ressuscitado. 

A história da salvação (acabámos de a recordar nos seus pontos principais através das leituras do texto sagrado e do canto dos salmos) dirige-se, toda ela, para Cristo ressuscitado, e nele encontra o seu centro. Desde a criação do mundo, passando pela fé de Abraão e pela libertação do Egipto, à tristeza do cativeiro de Babilónia e ao regresso jubiloso à Terra da Promessa — Deus, qual pintor exímio numa tela inicialmente vazia e sem forma, vai dando corpo à obra prima, cada vez mais nítida, e antecipa, prepara Cristo ressuscitado. 

Cristo foi a Palavra que o Pai proferiu ao criar o universo. Ele está presente em tudo (Jo 1). Todo o universo existe para Ele — toda a evolução, todo o caminho do mundo têm uma meta: Cristo. Ele (o vencedor da escuridão da morte) ilumina, atrai, conduz, mostra a Sua presença: das leis que regem as realidades mais evidentes da natureza, às normas que regulam o que é invisível a olho nu, é Cristo ressuscitado a chave do seu conhecimento. 

A luz da razão, que nos permite a ciência e a técnica, o pensamento concreto e abstracto, também ela encontra em Cristo ressuscitado a chave, a luz que a ilumina e leva mais longe. 

O drama da existência humana, encontra em Cristo ressuscitado a luz que lhe revela o sentido. Desde o milagre da concepção e nascimento de um ser humano, passando pelo mistério do sofrimento e da dor, às alegrias das conquistas e vitórias: à luz de Cristo ressuscitado, tudo é iluminado com a luz da vida eterna — a luz da vitória sobre o pecado e a morte. 

Cristo ressuscitado é a luz do bem e da generosidade; é luz que permite ver com verdade o rosto do próximo e nos deixa interpelar por ele e pelas suas necessidades. 

Cristo ressuscitado é luz que dá ao mundo novas cores, as cores da vida eterna. Sem ignorar o negro do pecado e da morte — antes fazendo-o contrastar e denunciando-o claramente — a luz do Ressuscitado dá-nos a certeza de podermos vencer: de nele termos vencido!  

Cristo ressuscitado é luz que permite a fé e nos faz subir mais alto e ver mais longe; é luz que nos permite a ousadia de chamar a Deus por “Pai Nosso”; é luz que nos resgata da escuridão e nos permite estar diante de Deus como filhos. Cristo ressuscitado é luz que, destruindo as nossas sombras e trevas, nos resgata de uma vida mediana e sem sabor, para nos conduzir a uma vida cheia de sentido, no serviço de Deus e dos irmãos. 

Cristo ressuscitado é luz que dá coragem não só para nos convertermos a nós como também para mudar o mundo, para o ir divinizando, transformando-o cada vez mais de acordo com o sonho de Deus. 

Cristo ressuscitado é luz que reúne a Igreja, e faz de nós todos, saídos das águas do baptismo, membros uns dos outros, membros do seu corpo. 

A luz desta noite — bem dizia o Precónio Pascal — brilha mais que o dia! Deixemo-nos invadir por esta luz fulgurante que, rompendo (hoje como na primeira Páscoa) as trevas do pecado, nos envolve com a vida divina, dirige o nosso olhar para Deus e para a realidade do mundo, ao mesmo tempo que nos confirma a meta gloriosa que nos aguarda. 

Caminhemos, sem medo, iluminados por Cristo ressuscitado, vigilantes neste dia que jamais se extingue, e que terá o seu ponto glorioso no definitivo, escatológico, aguardado regresso do Senhor.