No dia-a-dia somos confrontados com inúmeros desafios. A forma como os encaramos vai moldando e transformando-nos. Santo Agostinho de um nível intelectual invejável, resumiu como trilhar o caminho da vida com a célebre frase: “Ama e faz o que quiseres” explicando em seguida ”Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”.
Relembro isto, tão conhecido de todos nós, neste momento que se inicia a Quaresma uma época em que somos convidados a um maior recolhimento não para nos voltarmos para nós próprios, “para os nossos botões” ( isso já fazemos, infelizmente sem ser preciso nenhuma época especial), mas, para nos abrimos Aquele que por excelência Amou e portanto, fez o que quis. Mas, o que quis Nosso Senhor? Deus Pai envia o Seu Filho para nos salvar, deixando pregar cada uma das suas mãos e cada um dos seus pés no madeiro da Cruz, sofrer a troça de todos enquanto agonizava. Se vemos alguém em agonia, inocente ou culpado , ninguém com o mínimo de lucidez vai troçar dessa pessoa. O sofrimento pelo qual está a passar já é suficientemente doloroso! Mas, com Jesus, sabemos que não foi assim, enquanto está de braços estendidos a sangrar cheio de febre, com falta de ar, com sede, ainda ouve risos e chacota. Tudo por Amor. Mas, bem sabemos que o seu sofrimento não foi só esse, foi sobretudo o abandono da maioria dos seus discipulos com quem tinha partilhado muitas vezes o mesmo teto. Neste tempo de pandemia em que muitos se encontram mais sós podem-se lembrar que Cristo na Cruz sofreu o mesmo e ainda em circunstâncias que nenhum de nós poderia suportar. É o Amor no cume da existência. Nesta época em que constamos o desnorte de quem conduz o nosso país, por um lado, metem uma nação inteira em confinamento, com vista à não proliferação de um vírus, por outro, legislam para que se possa matar, mais do que nunca precisamos de olhar para Aquele que de braços abertos nos quer acolher e perguntar “O que queres com isto?”e por outro pedir perdão pelo mal que Lhe continuamos a fazer, sim, porque as bofetadas na cara, a coroação de espinhos parece aumentar de forma exponencial sem que os Homens queiram confinar o seu interior e começar a questionar sobre a sua conduta. Mas para coseguir este despojamento só há um caminho deixarmos o consumo desmedido a que nos temos habituado e olharmos para o outro. Por isso, a Igreja apela à penitência e ao jejum. Jejum de comida mas, sobretudo do que nos afasta de Deus e dos outros, demasiado tempo com a TV, conversas inúteis que muitas vezes roçam a curiosidade da vida alheia, ver revistas chamadas “cor-de-rosa” que não acrescentam nada à nossa relação com Deus e com os demais e que por vezes, se não sempre, nos levam a formar juízos de factos que não conhecemos e portanto, serem uma ocasião de pecado. Neste momento temos uma mortificação obrigatória, usar máscara. Podemos atuar de duas formas: Um é usar mas estar sempre aborrecido, outra é a de usar e ver nesse facto uma forma de me unir a Jesus que suportou fardos bem piores que este sendo Deus.
Uma outra mortificação será quando desconfinarmos não começar a fazer compras desmedidamente. Recordo que em Outubro fui a um Centro Comercial comprar um livro que só havia ali e fiquei estarrecida quando ao passar vi uma fila de pessoas para entrar numa dada loja. Não sendo bens de primeira necessidade, fiquei boquiaberta….Afinal parece que não aprendemos. Esta pandemia, como sabemos está atirar milhares de pessoas para o desemprego e não podemos fazer de conta que não é nada connosco.
Aproveito ainda, para que neste momento mais propício à oração e sacrifício que nos empenhemos em rezar pelos responsáveis politicos para que restabeleçam quanto antes as aulas presenciais, o drama das familias e docentes é muito grande mas, maior ainda é com os alunos institucionalizados e aqueles que não têm uma estrutura familiar capaz de os acompanhar tendo de ir para a escola quando os seus colegas estão em casa. É muito doloroso para estes jovens pois as suas feridas ficam expostas publicamente. Rezar sim, porque esse desconfinamento tem de ser responsável e com acompanhamento. Não deixo de me surpreender porque há professores que em 15 dias estão a ser testados duas vezes sem ter havido qualquer caso na sua escola e numa altura em que não há praticamente alunos mas, na altura em que as escolas estavam repletas de discentes nunca ninguém foi testado, a não ser os alunos com sintomas ou cujos familiares testaram positivo. Por isso repito, rezar para que o Espirito Santo ilumine estes senhores na altura de decidir. Este é o tempo propício!
Maria Moreira