Madre Virgínia: Encerramento do Processo Diocesano reagendado para 2021

Foto: Duarte Gomes

O bispo do Funchal presidiu na manhã de sábado, dia 24 de outubro, no Mosteiro de Santo António, a uma Eucaristia em ação de graças pelos 160 anos do nascimento da Madre Virgínia Brites da Paixão.

Esta Eucaristia deveria marcar também o encerramento do Processo Diocesano da Beatificação da Madre Virgínia. No entanto, a descoberta de novos documentos escritos pela própria, de que chegaram cópias à Diocese do Funchal na passada sexta-feira, dia 23 de outubro, adiaram esse encerramento. O mesmo ficou agora agendado para janeiro. Pelo menos é esse o desejo de D. Nuno Brás, que nesta celebração apelou a que “não deixemos de pedir por sua intercessão as graças do céu”.

Na homilia, D. Nuno Brás começou por constatar que “o nosso tempo é um tempo de personalidades”, em que toda a gente quer “ser famoso, conhecido, aplaudido”.  Uma fama efémera já que, passados uns anos, ninguém se lembra da maioria dessas pessoas.

Ao contrário, explicou, “Nossa Senhora nunca quis aparecer, dar nas vistas, ser alguém excecional. A única coisa que quis, que teve como objetivo foi viver com Jesus Cristo, o seu filho”. E não foi apenas o instinto de mãe a falar mais alto, “mas isto de sermos discípulos de Jesus”.

O mesmo se passou com São Francisco que “nunca teve o objetivo que falassem de si”, de “dar nas vistas”, mas teve antes “o objetivo de identificar-se com Jesus Cristo” e foi “uma identificação de tal modo que a dado momento se viu cravado com os sinais da própria paixão, com os estigmas”.

Esse deve ser também, frisou o prelado “o nosso objetivo como discípulos” e “não é que os nossos nomes fiquem para sempre gravados ou sejam para sempre gravados, porque isso passa com a poeira do tempo”, mas a verdade é que, “se vivermos em Jesus Cristo, se vivermos unidos a Ele de facto não passamos, Jesus Cristo não passa”. Este foi, lembrou, o “segredo” e a “vitória” de Nossa Senhora e será também a nossa.

Na documentação da Madre Virgínia que chegou à diocese, e que D. Nuno já teve ocasião de folhear, há um episódio que o prelado fez questão de partilhar com a assembleia. A Madre deveria ter aí uns 8 anos e “num momento em que estava verdadeiramente unida ao Menino Jesus, diz ela que Ele lhe arrancou o coração pequenino e o colocou no seu grande coração”. É este “vivermos unidos a Jesus Cristo, este deixar que o nosso coração pequenino seja incluído pelo coração grande de Jesus e seja transformado e alargado por Ele”, que deve ser o nosso objetivo de vida.

Daí o apelo para “pedirmos ao Senhor que aprece o dia em que a Igreja possa reconhecer o exemplo de vida cristã da Madre Virgínia, para que nela tenhamos um exemplo, e possamos também confiar as nossas dificuldades”.

No início desta celebração, em que foi ainda dada posse aos membros dos corpos gerentes da associação privada de fiéis Grupo da Madre Virgínia em União ao Imaculado Coração de Maria para o próximo triénio, coube a uma irmã do Mosteiro de Santo António dar conta da satisfação das religiosas pela presença de D. Nuno e dos demais representantes do presbitério, nesta celebração.

Tal como D. Nuno, a religiosa também fez votos que “por intercessão do Imaculado Coração de Maria, em breve possamos ver concluído o processo de canonização para que a vida, e virtudes, da Madre Virgínia possa ser reconhecida pela Igreja e seja apresentada aos fiéis como modelo de vida Cristã”.

Terminando desejou que “a vida da Madre Virgínia seja um estímulo para todos nós a mostrarmos a verdadeira vida, a renovarmos o nosso compromisso cristão, vivendo segundo os valores evangélicos, construindo a fraternidade, a paz, a justiça e o amor”.

Antes de terminar a celebração o Prof. Miguel Menezes leu um texto da sua autoria que a seguir publicamos.

No ANIVERSÁRIO da  Madre Virgínia… 

Hoje tem gosto a Gratidão…porque HOJE a Madre Virgínia Brites da Paixão celebraria mais uma Primavera no vasto pomar da sua natureza…

Hoje regamos a aridez do pó que somos com as lágrimas da memória agradecida…

Contemplamos o  tempo vivido…

Tu…deste em abundância porque deixaste-te semear…

Falo-te porque caminhas connosco pelas estradas da vida!

Silêncio HOJE…pelo sonho de Deus que foste em tons de serviçal realidade, de silêncio e encantos de uma vida escondida ” com Cristo em Deus “…

O sabor dos teus seráficos gestos, a delicadeza de cada prece, o beijo oferecido, o abraço apertado, a fraterna saudação de Paz e Bem…

O prelúdio dos teus Adágios era Magnificat nos terços rezados…

A TODOS acolhias, a todos proclamavas o Reino…

Embora humilhada; rejeitada; incompreendida; perseguida; expulsa; conservaste preciosamente essa capacidade de acolher.

Acolher…Era a ÚNICA maneira convincente, para revelar o Deus Pai e Mãe feito presença viva nos teus dias.

Tens nome porque concebida/ nascida para fazer tudo florescer – Virgínia :…

Heroicamente pobre e irmã de todos como Francisco de Assis, despojada e alegremente contemplativa como Clara que hoje enaltecemos…

A presença do nosso Pastor e do presbitério é para ti a prenda deste dia …

Na sua cruz peitoral a via sacra do quotidiano , no seu anel episcopal a FIDELIDADE a Cristo BOM Pastor para que possa ser o rosto visível do Amor Divino na terra dos homens…

A prece silente e fervorosa de cada irmã Clarissa que anula distâncias e reforça laços inquebráveis de CORAÇÃO, hoje é nossa…e os teus dedos formados são ostras dessas preciosas  pérolas conquistadas no entardecer de cada dia para a ETERNIDADE…

Daqui a pouco partimos em missão…

Mas…

Levamos-te para a vida diária.

Intercede pela nossa diocese, como célula viva da Igreja universal, para que seja verdadeiramente família de Deus.

És santa pela Dignidade com que conservaste o dever cumprido…

Adoração/ Amor/ Reparação

Na verdade, o que é uma vida por Deus cumulada, só quem a vive pode acreditar.

+  PAZ e BEM  

24/ 10 / 2020

Mosteiro de Santo António – Lombo dos Aguiares

160° aniversário natalício da Madre Virgínia

M.M.