Dias disto e daquilo… 12 de Agosto, dia Internacional da Juventude

D.R.

Quando eu era pequenina (sim, é verdade, também usava fitas e laços…) não havia tantos dias festivos ou festivaleiros, era-se mais pródigo e comedido nas celebrações, havia uma certa contenção nos gastos, pelo que consumismo era uma palavra que não fazia parte do nosso léxico. Também não havia umas siglas modernas, confusas, perturbadoras e desencadeadoras de intranquilidade. Não as vou citar para não ferir susceptibilidades.

As coisas eram como eram, nem melhores, nem piores, mas sim como as circunstâncias sociais, económicas, culturais e políticas o permitiam e o bom senso familiar estipulava. 

Todos trabalhavam muito, e feitas bem as contas sobrava pouco dinheiro para os gastos necessários (os supérfluos não existiam, nem faziam falta). Também não havia problema, pois o tempo livre e as alienantes solicitações ainda não tinham sido inventados, as publicidades, as vertigens comerciais que impelem a seduções de compras e de gastos sem freio.

Vivia-se ao ritmo natural do tempo e dos tempos, sem stress, sem ansiedades, sem angústias existenciais. Comia-se o estritamente necessário, pelo que também não havia problemas de obesidade em qualquer idade.

Recordo a minha infância como um tranquilo e colorido período da minha vida. Uma família feliz, contente e serena, com doenças e contenções, mas sempre em harmonia e na procura do salutar equilíbrio afectivo, numa diligente vontade de desencadear o bem em tudo e em todos. Os problemas resolviam-se, as doenças lá se iam curando e a vida fluía como um rio de paz.

Também não havia conflitos de gerações, nem problemas de aprendizagem, nem híper actividade, os alunos só estudavam se queriam fazer um curso, caso contrário o ofício esperava por eles. Não havia crises, nem de adolescência, nem de meia-idade, nem de coisa alguma, creio mesmo que nunca ouvi esta palavra…

Éramos muito ecológicos e avançados, só cozinhávamos o estritamente necessário, aproveitávamos tudo, não se deitava nada fora. Poupar e não estragar eram as palavras de ordem em qualquer casa portuguesa, e como a necessidade aguça o engenho, ideias não faltavam…

Dias da criança, dos avós, dos namorados, sei lá que mais, ainda não tinham sido inventados. Só o dia da mãe, nessa altura celebrado a 8 de Dezembro, Solenidade da Imaculada Conceição. Como em qualquer outro dia festivo vestíamos a roupinha de “ver a Deus”, as refeições eram mais longas e a ementa também marcava a diferença. Conversávamos todos muito à mesa e para mim eram dias em que podia disfrutar da presença total dos meus pais, pois o seu afecto não era interrompido por nenhum afazer laboral, era dia de descanso…

Prendas? Nem pensar! Um beijinho mais repenicado na bochecha da mãe, umas flores colhidas no quintal em volta da casa e uma alegre canção que eu trauteava, enquanto saltitava ao pé-coxinho: “Mãe há só uma, a minha a mais nenhuma”.

Lições de vida sem filosofias, manuais de pedagogia ou conselhos de psicologia, todos sabíamos que o ser se sobrepunha ao ter, e o ser feliz e amar os outros podia excluir grandes despesas, caros presentes, ou outros excessos consumistas. O que interessava era a pessoa em si e não o que ela possuía, os valores afectivos sobrepunham-se aos valores económicos…

Vendo bem, isto não foi no tempo da pedra lascada, mas simplesmente há um escasso, mas vertiginoso, meio século. Será que hoje os avós, os pais, as mães, os jovens e as crianças são mais felizes?