A aventura dos Irmãos Maristas nas plantações de chá no Bangladesh

Foto: AIS

Missão impossível 

No noroeste do Bangladesh, numa região onde quase tudo gira em redor das plantações de chá, uma pequena comunidade de Irmãos Maristas procura contrariar o infortúnio das populações locais extremamente pobres e que vivem num ambiente de quase escravatura. Não é fácil. Mas, para o Irmão Eugenio Sanz Sanchez, nunca haverá impossíveis nesta missão que é, acima de tudo, uma aventura de amor…

O Bangladesh é um país muçulmano. Calcula-se que tem cerca de 168 milhões de habitantes. Os Católicos são menos de 400 mil. São muito poucos, apenas 0,23%. Em Giasnogor, numa plantação de chá, são apenas sete. O Irmão Eugenio Sanz Sanchez é um deles. Está no Bangladesh há pouco mais de uma década. Quando chegou, este marista espanhol de Talavera de La Reina, levava consigo apenas uma mala com 20 quilos. Foi assim, carregado de quase nada mas cheio de energia que deitou mãos à construção de uma comunidade religiosa numa região pobre em que quase todas as pessoas vivem da plantação do chá. Nos últimos anos tem havido sinais de intolerância para com as religiões minoritárias, nomeadamente os cristãos. São indícios de um extremismo que está a galgar fronteiras e que ameaça também o Bangladesh. No entanto, ali, na região de Giasnogor o problema é outro e bem mais antigo: a pobreza. A beleza das plantações de chá engana os sentidos, esconde a amargura das populações quase escravizadas num trabalho duro que mal garante a sobrevivência. Lutar contra esta realidade é a missão quase impossível dos Maristas no Bangladesh. “O alvo da nossa acção aqui”, explica Eugenio Sanz Sanchez, “são as crianças dos jardins de chá”. Os Maristas procuram educar crianças e jovens seguindo o sonho de S. Marcelino Champagnat, o fundador da congregação, que pretendia tornar Jesus Cristo conhecido e amado, formando “bons cristãos e virtuosos cidadãos”. Quando chegou àquelas terras, o Irmão Sanchez terá percebido que ia ser uma tarefa complicada. “Os Britânicos decidiram criar jardins de chá nesta região.” Para isso, explica, prometeram aos habitantes locais “uma terra de leite e mel mas na verdade enganaram-nos”. A vida das pessoas em toda a região demonstra isso. “As casas não lhes pertencem. A terra não lhes pertence. Pertence tudo à empresa. Nenhum ser humano merece isto.” É dura a vida por ali. Há sofrimento em cada rosto, em cada pessoa. Por ali, ninguém é dono de nada a não ser do trabalho que é pago miseravelmente. O Irmão Sanchez faz um retrato doloroso de uma região onde ninguém é verdadeiramente senhor do seu destino. 

Vida muito dura

“Nesta área, existem muitos campos de chá onde milhares de pessoas vivem em condições de extrema pobreza. O pagamento que recebem por dia é de 70 cêntimos, cerca de 69 taka, a moeda nacional. Setenta cêntimos por 23 quilos de folhas de chá.” É muito duro. Os trabalhadores das plantações de chá vivem em casas miseráveis, quase casebres, muitas vezes, com paredes de barro, erguidas sob estacas de madeira e com telhados de colmo. É um mundo triste que alimenta a fortuna de algumas das maiores multinacionais do chá. É um mundo que os irmãos maristas procuram contrariar. A começar pela educação. Essa é a revolução que importa fazer. “Queremos dar dignidade a estas pessoas. Vai haver uma escola secundária, um liceu e também alojamento para raparigas e rapazes”, explica o Irmão Sanchez A Fundação AIS apoia esta missão desde o início. A casa dos irmãos, até o carro com que se deslocam todos os dias, é a expressão concreta da solidariedade dos benfeitores da Fundação AIS de Portugal e de todo o mundo. Contrariar o infortúnio das populações locais tão pobres, que vivem num ambiente de quase escravatura é a aventura de amor do irmão Eugene Sanz Sanchez e da sua comunidade marista no Bangladesh. Não há impossíveis nesta missão. E ele agradece, dizendo ‘obrigado’, uma das primeiras palavras que aprendeu na língua bengali: “Dhonnobad”…

Paulo Aido