Ser padre: coragem de ir contra a moda

D.R.

Um dom gratuito 

Francisco recorda que o “delineamento mais íntimo” da missão da Igreja é “o de ser obra do Espírito Santo, e não consequência das nossas reflexões e intenções”. 

A alegria do Espírito é “a única força que podemos ter para pregar o Evangelho”. 

O Papa descreve na Evangelii Gaudium (EG) os traços distintivos da missão da Igreja. Primeiramente, a atração: “a Igreja cresce no mundo, não por proselitismo, mas por atração”, na felicidade de seguir Jesus Cristo que chama e atrai”; depois, a gratidão e gratuidade, porque o “ardor missionário é “um reflexo da gratidão”; a seguir, a humildade, porque “se a felicidade e a salvação não são alcançadas pelos nossos méritos, o Evangelho de Cristo só pode ser anunciado com humildade”, sem arrogância. 

Outro ainda a aproximação à vida real, porque a missão “alcança as pessoas sempre onde estão e como estão, nas suas vidas reais”.  

Entre as armadilhas a evitar temos a autorreferencialidade – com o risco de autopromoção, a ânsia de comando – de “controlar as comunidades em vez de as servir”, a patologia do elitismo – “a ideia de pertencer a uma aristocracia”, o isolamento do povo – “visto como uma massa inerte, que precisa incessantemente de ser reanimada e mobilizada”.

Vocações ‘homeschooling’

Os EUA foram pioneiros no Homeschoolling (ensino doméstico) Católico. Há estudos que comprovam a eficácia desta modalidade de ensino e que mostram resultados muito positivos em todas as áreas e competências. Um novo estudo realizado pelo Center for Applied Research in the Apostolate da Universidade de Georgetown, em 2017, mostrou que os jovens educados no seio de uma família católica em ensino doméstico, têm quatro vezes mais probabilidades de ingressar no seminário do que aqueles que frequentaram escolas católicas.

Os dados revelam que 8% dos seminaristas que estão próximos de serem ordenados receberam educação sob a modalidade de ‘homeschooling’ durante uma média de 7 anos, e que o discernimento vocacional ocorreu aproximadamente aos 16 anos de idade.

É ocasião para reconhecer a influência positiva que tem o movimento do ensino doméstico católico nas vocações religiosas e que este ajuda a suportar a Igreja de várias formas admiráveis. 

Draper Warren, director de admissões em ‘Seton Home Study School’ de Fronte Royal, Virginia – ‘homeschooling’ católico creditado nos EUA -, afirmou que “normalmente não percebemos a importância histórica de um movimento enquanto é jovem mas daqui a uma geração olharemos para trás e veremos como o ensino doméstico católico contribuiu para manter a Igreja vibrante nos EUA. As vocações são apenas um dos muitos frutos.”

Comunidades cristãs vivas

De uma entrevista (resumida) a D. Nuno Brás por Luísa Gonçalves.

Jornal da Madeira – Além da oração, o que se deve fazer mais, pelas vocações? 

D. Nuno Brás – O normal é que as vocações surjam de comunidades cristãs vivas, de comunidades com  grupos de jovens que vivem entusiasmados com a vida cristã. 

JM – E o exemplo? As figuras de referência? 

NB – Creio que todos os sacerdotes tiveram no seu horizonte uma figura de referência: o pároco, um sacerdote que conheceram, alguém com quem estiveram…

JM – No seu caso, teve alguma? 

NB – No dia da missa nova do jovem Pe. Manuel Clemente, fui convidado para passar uma semana no Seminário. Fui. A meio da semana, que tinha como lema “tenho pena desta multidão, são como ovelhas sem pastor” dei comigo a olhar Lisboa e aquela frase não me saía da cabeça. Pronto. Tive a perceção de que era chamado a ser padre.

JM – Teve dúvidas?  

NB– Houve alturas em que estive quase para fazer as malas e ir embora. … mas, fui ficando. A partir daí foi uma vida de padre quase pelo mundo inteiro.

JM – Que mensagem deixaria a um jovem que estivesse na dúvida quanto à sua vocação? 

NB – A mensagem é sempre a necessidade de escutar. Escutar o apelo de Deus. É preciso muita atenção para reconhecer esse apelo.

JM – E também é preciso coragem, como diz o papa? 

NB – Sim, é preciso coragem. Sobretudo nestes tempos que correm, ser sacerdote não é nada fácil. Hoje é ir contra a moda, ir contra aquilo que a maioria pensa. Por isso, é preciso coragem.

Do ‘eu’ para o ‘nós’

A Igreja Católica celebrou, de 26 de abril a 3 de maio 2020, a semana de oração pelas Vocações Consagradas, num contexto inédito, por causa de Covid-19.

“Aconselhamos que, durante esta semana, sejam privilegiadas a oração pessoal e familiar, sem esquecer a oração sempre constante das comunidades religiosas”, escreveu D. António Azevedo, bispo de Vila Real e presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios (CEVM), na sua mensagem.

Pediu “uma oração dando graças a Deus por tantas vocações que enriquecem a Igreja, a começar pelas dos sacerdotes e dos consagrados e consagradas”.

Considerou a profissão como “uma verdadeira vocação”, quando leva a entregar-se “totalmente a cuidar dos outros, como são os casos dos profissionais de saúde, dos cuidadores nos lares ou em casa e dos voluntários em várias instituições e projetos”.

A realização dos nossos projetos de vida não é o resultado matemático do que decidimos dentro do nosso ‘eu’ isolado; pelo contrário, trata-se, antes de mais, da resposta a um chamamento que nos chega do Alto, e dirigido a todos.