D. Nuno celebrou com fiéis e lembrou “Deus não parou, mas continuou a construir em nós e connosco”

Foto: Duarte Gomes

O bispo do Funchal deu este domingo, dia 10 de maio, “graças a Deus” por já ser possível “reabrir as igrejas e celebrar a Missa com o povo.” D. Nuno Brás presidiu à Eucaristia das 12 horas, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, ainda com direito a transmissão pela RTP-Madeira.

Depois de quase dois meses em que “apenas pudemos participar da Eucaristia através dos meios de comunicação” esta foi, de resto, a “primeira intenção desta celebração”, em que se pediu também “por quantos, na linha da frente, permanecem ao serviço de todos” e em que D. Nuno Brás lembrou que “o mundo pode ter parado nestes dois meses, mas “Deus não parou. Continuou (e continua) a construir: em nós e connosco”.

Na homilia, o prelado refletiu sobre a importância de, “nestes tempos de incertezas e medos” em que vivemos “escutarmos, do próprio Jesus, as palavras que acabaram de ser proclamadas: ‘Eu sou o caminho, a verdade e a vida’ (Jo 14,6).”

“Jesus não diz que sabe o caminho; não diz que é dono da verdade; nem que cada um deve encontrar a vida que pensar ser a melhor. Jesus diz que Ele mesmo é o Caminho, a Verdade e a Vida’, explicou D. Nuno, segundo quem Jesus “propõe-se (nunca se impõe) a cada um e a todos.”

Ele, disse ainda o prelado, “convida todos a experimentar, a saborear como é bom, na vida de cada um, em cada dia e em todos os dias, podermos acolhê-lo como caminho, verdade e vida: vida plena, feliz; realidade não fingida nem criada, mas verdadeira; caminho sem atalhos, com dificuldades e não isento de sofrimentos, mas caminho que conduz ao nosso objectivo.”

Reaprender a viver de outro modo

“Parece que o mundo parou há dois meses atrás: ruas desertas, praças sem ninguém, fábricas sem produzir, portos sem barcos, aeroportos cheios de aviões parados… Mas Deus não parou. Continuou (e continua) a construir: em nós e connosco. O mundo quase parece que ficou com o conta-quilómetros a zero”, relembrou D. Nuno Brás, para logo frisar que “quase parece que, agora, temos que reaprender a viver de um outro modo.”

“Não será este um convite, uma oportunidade que Deus nos dá para, com Ele, construirmos um mundo em que Jesus seja, de facto, o Caminho, a Verdade e a Vida? Não será este um convite para propormos ao mundo inteiro a Vida plena e feliz que só Jesus pode oferecer? Não será este um convite para que nós, cristãos, mostremos a todos a realidade em que vivemos, iluminando-a com a luz de Cristo? Não será este um convite para propormos ao mundo o Caminho que leva à vida, e que é o próprio Jesus”, interrogou-se D. Nuno Brás.

Aos cristãos, concluiu o bispo diocesano, recai a tarefa e a responsabilidade de “dar a experimentar ao mundo do nosso tempo que é possível e é bom tomar a sério a Jesus como Caminho, Verdade e Vida. Esse é o grande pedido que hoje Deus nos faz, a todos e a cada um.”

Emoção no regresso

Nesta Eucaristia, a lotação de um terço da capacidade da igreja da Boa Nova não foi atingida. Os fiéis, tal como lhes foi pedido, chegaram de máscara, desinfetaram as mãos à entrada e acataram as indicações da equipa de acolhimento, nomeadamente quanto ao lugar que deveriam ocupar.

A celebração decorreu dentro da normalidade possível, com o fiéis a dizerem que entendem todas as limitações impostas e a frisarem que “é melhor vir à Missa assim, do que não vir”.

Alguns não esconderam mesmo a emoção deste regresso e, de lágrima ao canto do olho, só pedem para que todos continuem a cumprir com o que lhes é pedido, para seu bem e dos outros, e para que “não seja preciso voltar atrás nesta decisão de podermos vir à igreja”.

Leia a homilia de D. Nuno Brás na íntegra:

V DOMINGO DO TEMPO PASCAL (A)

10 de Maio de 202

Homilia

1. Nestes tempos de incertezas e medos em que vivemos, é importante escutarmos, do próprio Jesus, as palavras que acabaram de ser proclamadas: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).

Jesus não diz que sabe o caminho; não diz que é dono da verdade; nem que cada um deve encontrar a vida que pensar ser a melhor. Jesus diz que Ele mesmo é “o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Jesus é a vida. A nossa vida, e a vida em plenitude. Ele, em nós, é a Vida. E só nele a encontraremos. Uns poderão garantir-nos a sobrevivência (e, nestes dias que passámos, foi graças a tantos homens e mulheres que conseguimos viver). Outros poderão mostrar-nos uma parte da vida (desenvolvendo, por exemplo, a dimensão física, corporal do ser humano, como os atletas; ou, como intelectuais, a nossa dimensão de pensamento). Outros ainda poderão prometer uma sociedade um pouco melhor que aquela em que vivemos. Mas apenas Jesus se pode apresentar dizendo que é a Vida. A vida abundante, feliz, eterna. A meta que todo e qualquer ser humano procura e anseia.

Jesus é a Verdade. A verdade é luz que nos mostra a realidade em que existimos. Muitos dizem que a verdade é relativa, que existem muitos tipos de luzes — mas nós sabemos que todas essas luzes, fabricadas pelos homens, têm por referência a luz do sol. Muitos dizem que cada um tem a sua verdade — mas nós sabemos que a verdade não somos nós quem a fabrica, com os nossos gostos, as nossas opiniões, os nossos sonhos. Muitos julgam possuir a verdade e, por isso, a querem impor aos demais. Jesus nunca disse que tinha a verdade. Disse antes que Ele é a verdade, quer dizer: a luz que mostra quem somos e que realidade se encontra de facto à nossa volta. Jesus (só Ele) é a luz que nos permite caminhar para a vida verdadeira.

Jesus é o Caminho. Ao longo da história da humanidade, muitos foram os que tentaram mostrar aos homens o caminho a ser percorrido em direção à vida, a vida feliz. Ainda hoje, no meio de tantas informações, de tantas opiniões, de tantas teorias, parece, não raras vezes,que nos encontramos numa encruzilhada, sem saber por onde deve seguir a nossa vida como pessoas e como sociedade. Jesus é o Caminho que conduz à vida.

Só Ele é o caminho, a verdade e a vida. E propõe-se (nunca se impõe) a cada um e a todos. E convida todos a experimentar, a saborear como é bom, na vida de cada um, em cada dia e em todos os dias, podermos acolhê-lo como caminho, verdade e vida: vida plena, feliz; realidade não fingida nem criada, mas verdadeira; caminho sem atalhos, com dificuldades e não isento de sofrimentos, mas caminho que conduz ao nosso objectivo.

2. Na IIª Leitura que escutámos, S. Pedro dizia tudo isto de um outro modo: dizia que Jesus é a pedra angular — hoje diríamos: a trave mestra — de uma construção; e dizia ainda que os cristãos são pedras vivas desse edifício que tem Jesus como trave mestra. 

O mesmo é dizer: S. Pedro convidava-nos a não permanecermos de braços cruzados, julgando que já tudo está feito ou que não somos importantes na construção. Pelo contrário: dizia-nos que somos construção de Deus: construção que Deus vai edificando em cada dia, em cada momento da história do universo.

Parece que o mundo parou há dois meses atrás: ruas desertas, praças sem ninguém, fábricas sem produzir, portos sem barcos, aeroportos cheios de aviões parados… Mas Deus não parou. Continuou (e continua) a construir: em nós e connosco. O mundo quase parece que ficou com o conta-quilómetros a zero. Quase parece que, agora, temos que reaprender a viver de um outro modo.

Não será este um convite, uma oportunidade que Deus nos dá para, com Ele, construirmos um mundo em que Jesus seja, de facto, o Caminho, a Verdade e a Vida? Não será este um convite para propormos ao mundo inteiro a Vida plena e feliz que só Jesus pode oferecer? Não será este um convite para que nós, cristãos, mostremos a todos a realidade em que vivemos, iluminando-a com a luz de Cristo? Não será este um convite para propormos ao mundo o Caminho que leva à vida, e que é o próprio Jesus?

“Vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido por Deus, para anunciar os louvores daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável” (1Ped 2,9) — dizia-nos ainda S. Pedro, sublinhando a nossa tarefa e a responsabilidade que recai sobre os cristãos: dar a experimentar ao mundo do nosso tempo que é possível e é bom tomar a sério a Jesus como Caminho, Verdade e Vida. Esse é o grande pedido que hoje Deus nos faz, a todos e a cada um.