Líbano: Agrava-se a situação no país, com muitas pessoas a ir “ao lixo procurar comida”, denuncia religiosa portuguesa

Foto: AIS

A crise económica que está a atingir o Líbano tem vindo a agravar-se nas últimas semanas, em parte por causa das medidas para a contenção do coronavírus, e está a ter reflexos dramáticos na vida das populações, nomeadamente na comunidade cristã.

A situação é “catastrófica”, nas palavras da Irmã Maria Lúcia Ferreira que pertence à Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia. Em mensagem enviada para Lisboa, para a Fundação AIS, esta religiosa portuguesa mais conhecida como Irmã Myri diz que a “catástrofe aumenta de dia para dia sobretudo agora com o confinamento obrigatório por causa do Covid19”.

Na mensagem telefónica desde o Mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara, na Síria, uma vila junto à fronteira com o Líbano, a Irmã Lúcia Ferreira descreve uma situação de descalabro, com a população “a sofrer imenso, à beira da fome”.

É tão grave esta crise – em Dezembro, a Fundação AIS dava conta de que a paralisia económica do Líbano estava a atingir cada vez mais famílias e a afectar a comunidade cristã – que a religiosa portuguesa relata casos de “muita gente, que vivia bem, de boa educação, que não tinha necessidade nenhuma [a nível económico] a ir aos caixotes do lixo para procurar comida, porque estão realmente a passar fome”.

A desvalorização da moeda acentuada com a paralisia da economia por causa do combate ao coronavírus está a provocar este caos descrito pela Irmã Myri. “A libra libanesa desceu [desvalorizou] duas vezes e meia nos últimos dois, três meses, e os salários não dão para nada, não chegam para dar a subsistência para um mês… àqueles que ainda têm emprego. Os preços aumentaram três a quatro vezes. Como estão a ver, é uma situação insustentável em que as pessoas têm dinheiro no banco mas o banco não tem dinheiro para lhes dar.”

Esta crise profunda está a ter repercussões também muito duras junto das famílias cristãs do Líbano. “A população cristã está em grande, grande dificuldade”, resume a Irmã Maria Lúcia Ferreira, apelando à generosidade dos portugueses.

A Fundação AIS está empenhada, desde há vários anos, no apoio à subsistência das populações cristãs mais carenciadas no Líbano. O refeitório em Zahle é um exemplo concreto dessa ajuda, tendo alterado até o seu modo de funcionamento por causa da pandemia do coronavírus.

Agora, o refeitório – que é gerido pela Igreja Melquita e é conhecido localmente como a “Mesa de São João Misericordioso” – passou a entregar as refeições quentes em casa dos cerca de 400 utentes que utilizam os seus serviços todos os dias.

A entrega das refeições, essencialmente no bairro de Zahle, situada no leste de Beirute, onde reside grande parte da comunidade cristã oriunda da Síria, é assegurada por uma equipa de voluntários, devidamente protegidos de acordo com os padrões recomendados pela Organização Mundial de Saúde.

Issam Darwish, Arcebispo de Furzol, Zahle e de Bekaa, no Líbano, e que esteve em Portugal em 2014 a convite da Fundação AIS, já agradeceu este esforço solidário dos voluntários e dos benfeitores em todo o mundo, incluindo Portugal, que “nestas circunstâncias excepcionais” assumiram o compromisso de “fazer o bem e ajudar as pessoas necessitadas”.