Paz: da «cultura da ameaça» à «cultura do encontro»

D.R.

1. O Papa Francisco alerta na mensagem o 53.º para Dia Mundial da Paz – instituído em 1968 por Paulo VI – para o perigo de “aniquilação” nuclear da humanidade, apelando ao fim deste armamento.

“Não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença”, refere o texto para a celebração de 1 de janeiro de 2020, intitulado ‘A paz como caminho de esperança: diálogo, reconciliação e conversão ecológica’.

Francisco lembra a experiência vivida na sua viagem ao Japão, aquando da passagem pelos memoriais de Nagasáqui e Hiroshima, a 25 de novembro, onde rezou pelas vítimas dos bombardeamentos atómicos, da II Guerra Mundial.

 “Os sobreviventes a estes bombardeamentos atómicos – denominados os hibakusha – contam-se entre aqueles que, hoje, mantêm viva a chama da consciência coletiva às sucessivas gerações do horror daquilo que aconteceu”, refere. 

2. O Papa desafia a comunidade internacional a romper a “lógica do medo”, da desconfiança, passando da “cultura da ameaça” para a “cultura do encontro” e faz apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. 

“Para alcançar a paz é preciso abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades”, apela.

Recorda as guerras e conflitos que a humanidade transporta consigo, num momento de “crescente capacidade destruidora”, afetando especialmente os mais pobres.

“Há nações que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa”, denuncia.

A mensagem sublinha o valor da memória, do respeito, da solidariedade e da reconciliação, para “depor toda a violência” e “reconhecer no inimigo o rosto dum irmão”. “O mundo não precisa de palavras vazias, mas de artesãos da paz”.

O caminho de reconciliação convida-nos a encontrar no mais fundo do nosso coração a força do perdão, e acrescenta: “nunca haverá paz verdadeira” sem a construção de um “sistema económico mais justo”.

Toda a pessoa que vem a este mundo tem direito a conhecer uma existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz em si”, conclui 

3. A mensagem denuncia a «exploração abusiva dos recursos naturais». O Papa Francisco apela a uma  “conversão ecológica” que garanta o futuro da humanidade.

“Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –, precisamos duma conversão ecológica”, refere o texto.

Francisco defende uma nova perspetiva sobre a vida, que promova a “sobriedade da partilha”.

O mundo precisa de motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições Temos de acabar com o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência. E temos de postar em modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana”.

A mensagem pontifícia sustenta que esta conversão deve ser entendida de “maneira integral”, como uma transformação das relações entre pessoas, com os outros seres vivos, com a natureza e com Deus, “origem de toda a vida”, valorizando “o encontro com o outro e a receção do dom da criação, que reflete a beleza e a sabedoria do seu Artífice”.