Sínodo Amazónia: Igreja «em saída» testemunha a Palavra de Deus

Povo Yanomami, Amazónia, 2003 | Foto: Kristian Bengtson

Na pista da Laudato Si

O encontro com os jornalistas na Sala de Imprensa vaticana no início desta segunda semana do Sínodo sobre a Amazónia contou com a presença de vários participantes no Sínodo.

“Está-se delineando um quadro no qual tudo está realmente conectado” e a ‘Laudato si’ vive-se concretamente, foi o que disse o padre Giacomo Costa, secretário da Comissão de Informação, falando sobre a 9ª CGS para a Amazônia, que teve início com a oração do Papa pelo Equador.

Ricos os testemunhos de “como a Igreja em saída é já uma realidade” com as comunidades que defendem a vida, o trabalho em equipe, conta o padre Costa, destacando como isso nos faz refletir sobre os desafios dos diversos ministérios e sobre a liturgia inculturada. 

As vítimas pela proteção da terra exigem ações que possam levar à criação de um observatório eclesial internacional sobre as violações dos direitos humanos das populações. Poder-se-ia defender uma governança na qual as populações pudessem ser ouvidas. 

Falou-se também de modelos circulares de economia, de direitos ambientais, mas também de um crescimento da cultura da comunicação na Região Pan-Amazônica, com a valorização da mídia católica e a formação de “comunicadores nativos.

A boa nova do perdão

D. José Ángel Divassón Cilveti, ex-Vigário apostólico de Puerto Ayacucho, Venezuela, referiu-se ao grupo étnico dos Yanomami que vivem na área florestal entre a Venezuela e o Brasil. Nós, – disse ele -, estamos presentes ali como salesianos desde 1957. Acompanhamos estes povos. O critério é o da partilha da vida das comunidades, conscientes de que cabe a elas tomarem as rédeas nas mãos.

Em sua experiência, o principal da evangelização é que Jesus Cristo deve ser levado até eles, e  conhecer suas vidas para não chegarmos como colonizadores.  A ajuda a estas pessoas levou-as a crescer, porque sem dúvida “o Evangelho traz coisas novas”. “Começaram a reconhecer que a capacidade de perdoar as levou a resolver problemas e a superar muitos conflitos. Na Floresta Amazónica temos testemunhado essas mudanças”.

Temos de dar voz àqueles que sempre viveram neste pulmão verde, diz D. José Díaz Mirabal, que representa mais de 400 povos amazónicos. Faz seu o “grito” para que termine a “invasão” de grandes projetos de desenvolvimento, empresas hidroelétricas, mineração, monocultura, roubo de terras. Muitos são assassinados, disse ele, e pede aos governantes da Amazónia para que se sentem e conversem que se possa “fortalecer o vínculo entre a Igreja e os povos indígenas”.

Missão da Igreja Católica

A centralidade de Cristo para a missão da Igreja na Amazónia, foi um dos temas na 8ª Congregação Geral do Sínodo (CGS). O anúncio da Boa Nova não somente na Amazônia, mas em todo o mundo, jamais se faz  sozinho. Por isso, investe-se na criação de equipes adequadas para responder aos múltiplos desafios pastorais e capazes de testemunhar a alegria da evangelização.

Numa região em que vivem cerca de 38 milhões de pessoas, incluindo grupos de indígenas voluntariamente isolados: também a eles deve ser levada a Palavra de Deus através da linguagem do amor e da oração. É necessário um testemunho coerente, belo, capaz de atrair; a Igreja deve estar “em saída”, educar na fé; colocar-se em diálogo, apreciar e valorizar os povos, fecundar as culturas com a riqueza evangélica, porque dela não se esperam somente projetos, mas encontrar uma Pessoa, isto é, Jesus Cristo. O cardeal Carlos Aguiar, do México refere: “o Papa Francisco já nos deu um testemunho muito forte na Evangelii gaudium, na Laudato si’ e em diversos comunicados de que devemos comunicar, prioritariamente, a Palavra de Deus. Nela encontramos Deus e os irmãos.

O diálogo inter-religioso e ecuménico

Refletiu-se ainda sobre a importância do diálogo inter-religioso, que investe na confiança e vê as diferenças como uma oportunidade, distante da colonização religiosa e próximo da alteridade. O diálogo ecuménico evidencia a importância de um caminho comum para a proteção dos direitos das populações indígenas. Os cristãos não podem calar-se diante das violências e das injustiças; devem anunciar o amor de Deus e denunciar todas as formas de opressão sobre a beleza da Criação.

 “Temos o que chamamos ‘trânsito religioso’. Por muitas razões as pessoas mudam de uma Igreja para a outra. Basta não concordarem com a opinião do pastor”. As populações da Amazónia têm muitas carências na saúde, na educação e muitas outras. As igrejas que prometem “boa economia, casamento, felicidade” têm logo aderentes.

Dom Joaquín Fernández, Bispo de Rio Branco (AC), falou das dificuldades da Católica em alcançar os lugares mais remotos da Amazónia: “não temos condições pessoais nem económicas para estarmos presentes nesses lugares”. Todos os cristãos, temos de unir forças na defesa e sustentabilidade dos povos da Amazónia.