As mulheres foram as primeiras testemunhas da Ressurreição

Beato Angelico, Maria Madalenas no sepulcro (detalhe)

O sábado mais longo da história

1. Aquele sábado foi o mais longo de todos os sábados. Nunca mais passava. Nunca mais aparecia a aurora do domingo. Na tarde de sexta feira em que foi crucificado Jesus, o profeta de Nazaré, “lançou um grande brado, e morreu” (Mt 27,50). “O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo, a terra tremeu e fenderam-se as rochas” (Mt 27,51). O centurião e os guardas estremeceram de terror e proclamaram “verdadeiramente este homem era Filho de Deus”. Algumas mulheres estavam por ali, tendo seguido Jesus desde a Galileia para o servir: “Entre elas achavam-se Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu” (Mt 27,56). À tardinha, José de Arimateia envolveu o corpo de Jesus num lençol branco e depositou-o num sepulcro novo, que tinha mandado talhar para si na rocha. Rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e foi-se embora” (Mt 27, 59). As mulheres ainda ficaram sentadas defronte do sepulcro, durante algum tempo. Profundamente desanimadas, tristes, chorosas, corações partidos, o amigo morto, uma esperança perdida, inconsoláveis. Foram para casa mas aquele dia de sábado foi para elas o mais longo da história. E o dia mais escuro!

Ressuscitou como disse

2. Ao amanhecer de domingo, Maria Madalena e a outra Maria, foram ao túmulo. Houve um violento tremor de terra. Um anjo rolou a pedra e sentou-se sobre ela. “Os guardas iam morrendo de pavor”. “O anjo disse à mulheres: Não temais! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Não está aqui; ressuscitou, como disse. Vinde ver o lugar em que ele repousou. Ide depressa e dizei aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos. Ele vos precede na Galileia. Lá o haveis de rever, eu vo-lo disse” (Mt 28,5-7).

Prontamente se afastaram, com receio e com alegria, correram a dar a boa nova aos discípulos. Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes: “Salve!” Aproximaram-se e, prostradas, beijaram-lhe os pés. Disse-lhes Jesus: Não temais! Ide dizer aos meus irmãos que se dirijam à Galileia, pois é lá que eles me verão (Mt 28, 8-10).

E tudo mudou. Afinal em Jesus a vida venceu a morte. Jesus ressuscitou. Foi a grande mensagem. Não há mais tristeza. E as mulheres foram as primeiras testemunhas da Ressurreição. Viram Jesus vivo. Anunciam a boa nova. Tudo recomeçava de novo. Afinal Jesus não os enganara com suas palavras “ao terceiro dia ressuscitarei” – lembraram-se.

A Ressurreição tornou-se o centro da mensagem cristã. Esta verdade de fé insere a nossa existência num horizonte de esperança aberto ao futuro eterno de Deus, à felicidade plena, à certeza de que o pecado e a morte podem ser vencidos. E isto leva a viver com mais confiança as realidades quotidianas, a enfrentá-Ias com coragem. A ressurreição de Cristo ilumina com uma luz nova todas as realidades.

Dois rumores bem diferentes

3. Diz o teólogo francês Joseph Moingt que o cristianismo começou com um rumor. O rumor do silêncio. Jesus havia morrido na cruz. Seus discípulos desapareceram do mapa, escondidos com medo dos fariseus. As mulheres, mais corajosas, preparavam-se para, após o sábado, ir ao túmulo e ungir o corpo com aromas o corpo de Jesus. O silêncio era pesado. Morrera o profeta que protegia os pobres e as crianças, curava os doentes e falava com muita sabedoria.

Mas, de repente, outro rumor irrompeu. Fala-se de vida.  “O túmulo está vazio. A pedra estava rolada. Aquele que morreu está vivo. Nós vimo-lo. Nós o reconhecemos ao partir do pão. Eu chorava no jardim sem encontrá-lo e de repente ouvi meu nome e reconheci que era ele.”

Perante este rumor, quando choravam a perda dolorosa do Mestre, os discípulos sentem-se cheios duma alegria que não sabem explicar donde vem. E Jesus aparece consolando, animando, e enviando-os em missão. Já não são mulheres assustadas e tristes que afirmam havê-lo visto e ouvido. Apesar de terem sido as primeiras a viver a experiência pascal, souberam transmiti-la aos companheiros que, descrentes num primeiro momento,  logo se sentiram contagiados por seu testemunho.  E depois declaram havê-lo visto, ouvido e tocado com suas mãos. 

No testemunho nasce e cresce a comunidade

4. O grupo disperso torna-se unido.  O medo é banido dos corações e em seu lugar brota uma força que enfrenta os poderes políticos e religiosos com desassombro.  Forma-se uma comunidade à volta de Jesus ressuscitado. O seu amor venceu a morte pelo poder de Deus.   

Jesus ressuscitou. O profeta assassinado pelo poder das trevas vive para sempre à direita do Pai. Seu caminho é vida. Não mais morrerá. A comunidade cresce na esperança que a presença do Ressuscitado suscita no seu meio. Está unida. Reparte seus bens. Reza. Partilha o pão. É fiel aos ensinamentos de Jesus que os apóstolos vão em missão anunciando como Boa Notícia.

Sem o testemunho fiel desta comunidade, o rumor que começou a circular pelas ruas de Jerusalém poderia ter sido abafado e sufocado pelos poderes que haviam matado a Jesus e a quem não interessava nada sabê-lo vivo.  Seria uma vaga lembrança. Porém, tornou-se testemunho corajoso e destemido que enfrentou todas as vicissitudes e adversidades, perseguições e tribulações e ganhou mundo e se multiplicou em meio a todas as tentativas para silenciá-lo. A comunidade semeou o grão de trigo, que floresceu nos corações, através do testemunho. O homem não é mais um ‘ser para a morte’, nem a vida é absurda e sem sentido, pois com a vitória sobre a morte, a pessoa de Jesus de Nazaré se fez nosso caminho em que Deus é amor. Lá e cá: no céu e na terra, a Deus e aos irmãos da “casa comum” num amor fraterno contagioso.