Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, Mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus. E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro… E diziam entre si: «Quem nos há-de remover a pedra da entrada do sepulcro?». Levantando os olhos, viram removida a pedra, que era muito grande. Entrando no sepulcro, viram, sentado… um jovem, vestido de roupas brancas, e assustaram-se. Ele falou-lhes: “Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado? Ele ressuscitou, já não está aqui. Eis o lugar onde o depositaram. Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia. Lá o vereis como vos disse”. Elas saíram do sepulcro e fugiram trémulas e amedrontadas. (Marcos 16, 1-8)
Na homilia da vigília da Páscoa 2019, na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco refletiu sobre a remoção das pedras duras que todos encontramos na nossa caminhada para Deus: a morte, o pecado, o medo e o mundanismo.
Cedemos muitas vezes aos “lampejos cintilantes do dinheiro, da carreira, do orgulho e do prazer” não antepondo a esses ídolos, a luz verdadeira, que é a pessoa de Jesus.
As mulheres vão ao túmulo levando os aromas, mas temem que a viagem seja inútil, porque uma grande pedra bloqueia a entrada do sepulcro.
“Parece que tudo se vai estilhaçar contra uma pedra: a beleza da criação contra o drama do pecado; a libertação da escravatura contra a infidelidade à Aliança; as promessas dos profetas contra a triste indiferença do povo. O mesmo se passa na história da Igreja e na história de cada um de nós: parece que os passos dados nunca levam à meta. E a frustração da esperança poderá tornar-se a obscura lei da vida.”
Hoje, porém, descobrimos que o nosso caminho não é feito em vão, que não esbarra contra uma pedra tumular.
«Porque buscais o Vivente entre os mortos?» (Lc 24, 5); porque pensais que tudo seja inútil, que ninguém possa remover as vossas pedras? A Páscoa é a festa da remoção das pedras. Deus remove as pedras mais duras, contra as quais vão embater esperanças e expetativas. A história humana não acaba frente a uma pedra sepulcral, já que hoje mesmo descobre a «pedra viva» (1 Ped 2, 4): Jesus ressuscitado.
Ele remove do coração as pedras mais pesadas. E nós sabemos quais são. Muitas vezes, a esperança é obstruída pela pedra da falta de confiança. Outras vezes “pedra sobre pedra, construímos dentro de nós um monumento à insatisfação, à lamentação, que são o sepulcro da esperança. Mas Jesus ressuscitou, não está lá; não O procures, onde nunca O encontrarás: não é Deus dos mortos, mas dos vivos ( Mt 22, 32).
E há uma segunda pedra que, muitas vezes, fecha o coração: a pedra do pecado. O pecado seduz, promete coisas fáceis, bem-estar e sucesso, mas, depois, deixa dentro de nós a solidão, o vazio e a morte.
As mulheres, à vista da pedra removida, sentem-se perplexas; ao ver o anjo, ficam «amedrontadas» e «voltam o rosto para o chão» (Lc 24, 5). Não têm a coragem de levantar o olhar.
Como elas, ficamos tantas vezes envolvidos nos nossos medos. Preferimos ficar sozinhos encerrados nas celas escuras do nosso coração do que abrir-nos ao Senhor. E, todavia, só Ele nos chama para nos levantarmos. No pecado, vê filhos carecidos de ser levantados; na morte, irmãos carecidos de ressuscitar; na desolação, corações carecidos de consolação.
Na Páscoa, Jesus mostra quanto nos ama. Ama-nos a ponto de experimentar a angústia, o abandono, e a mansão dos mortos para de lá sair vitorioso e dizer-nos: «Não estás sózinho, confia em Mim!» Com Ele, podemos realizar também nós a Páscoa: a passagem do fechamento à comunhão, da desolação ao conforto, do medo à confiança.
As mulheres escutam a advertência do anjo: «Lembrai-vos de como vos falou, quando ainda estava na Galileia» (Lc 24, 6). E recuperam a esperança.
Voltar a um amor vivo para com o Senhor é essencial; caso contrário, tem-se uma fé de museu, não a fé pascal. Mas Jesus não é um personagem do passado, é uma Pessoa vivente hoje. Anda pelas Galileias da vida. Recordando Jesus, as mulheres deixam o sepulcro. A Páscoa ensina-nos que o crente é chamado a caminhar ao encontro daquele que está Vivo.
Não nos deixemos levar pela corrente, pelo mar dos problemas; não nos estilhacemos contra as pedras do pecado e os rochedos da desconfiança e do medo. Ressuscitemos com Ele. Ele é a pedra angular do edifício da salvação. É a pedra da qual jorra água viva, como jorrou abundante do rochedo de Moisés, para matar a sede ao povo e aos animais, no deserto.
Páscoa é tempo de remover as pedras e de caminharmos serenos e felizes, como os discípulos de Emaús, com o coração a arder, porque Ele caminha connosco.