Papa Francisco nos EAU: Encontro inter-religioso sobre a fraternidade humana

Foto: Vatican Media

Emirados Árabes Unidos (EAU)

País muçulmano aberto à ‘tolerância’ religiosa

 Os EAU são uma federação de sete emiratos localizados no Golfo Pérsico. O Dubai é política e economicamente o mais importante destes Emirados.

Segundo a Constituição de 1971, o Islamismo é a religião oficial na federação. Dos 9,267 milhões de habitantes, 76,7% são muçulmanos, 12,4% são cristãos e 6,5% são hindus (migrantes de países asiáticos). O art. 25º exclui a discriminação baseada na religião: “Todas as pessoas são iguais perante a lei. Não será praticada distinção entre cidadãos dos Emirados por razões de raça, nacionalidade, crença religiosa ou posição social”. Os muçulmanos não têm direito a mudar de religião e a apostasia do Islamismo é punível com a morte.

As igrejas cristãs não podem ter torres sineiras ou ter cruzes visíveis.

A Igreja católica está presente através do Vicariato Apostólico da Arábia Meridional. Nos EAU existem oito paróquias católicas e nove escolas. As 35 igrejas cristãs – católicos, protestantes e ortodoxos – estão frequentemente cheias.

Em 2016, as autoridades realizaram uma Conferência para discutir formas de promover a tolerância e o entendimento entre as religiões.

Papa Francisco escreve «nova página» entre cristãos e muçulmanos

Diálogo e encontro inter-religioso

O Papa Francisco enviou uma videomensagem à população dos EAU, dias antes da sua viagem, que decorre de 3 a 5 de fevereiro, apelando ao diálogo entre as várias religiões.

“Estou feliz por esta oportunidade que o Senhor me ofereceu para escrever, na vossa querida terra, uma nova página da história das relações entre as religiões, confirmando que somos irmãos, mesmo sendo diferentes”, referiu. 

Francisco agradece ao xeque Mohammed bin Zayed o convite para participar no encontro inter-religioso sobre o tema da ‘Fraternidade humana’, em Abu Dhabi.

O Papa mostra-se satisfeito por visitar os EAU, uma “terra que procura ser um modelo de convivência, de fraternidade humana e de encontro entre as diferentes civilizações e culturas, onde muitos encontram um lugar seguro para trabalhar e viver livremente, no respeito das diversidades”. O Papa deixa ainda uma saudação ao “amigo e querido irmão”, o grande Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, e aos que colaboraram na preparação do encontro.

Mohammed bin Zayed, príncipe herdeiro de Abu Dhabi, na sua conta da rede social Twitter postou uma mensagem de boas-vindas ao Papa:

“Saudamo-vos calorosamente, Santo Padre, Papa Francisco, e ansiamos pelo histórico Encontro de Fraternidade Humana entre si e sua eminência o Dr. Ahmad Al Tayyeb, grande Imã de Al-Azhar Al Sharif, em Abu Dhabi. Temos a esperança de que as gerações futuras prosperem em paz e segurança”, escreveu.

Papa encontrou-se com príncipe herdeiro e deixou votos de «solidariedade fraterna»

Xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan destacou valor da «tolerância», durante cerimónia privada

O Papa Francisco encontrou-se ontem com o príncipe herdeiro, xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan, para a cerimónia oficial de boas-vindas aos Emirados Árabes Unidos. O primeiro pontífice católico a visitar a península arábica foi recebido no palácio presidencial pela guarda de honra a cavalo, numa cerimónia com honras militares.

Francisco e Mohammed bin Zayed Al Nahyan conversaram durante cerca de 20 minutos, tendo o Papa assinado o livro de honra do palácio, onde deixou votos de bênçãos divinas de “paz e solidariedade fraterna”.

O príncipe herdeiro comentou o encontro na rede social Twitter, mostrando-se “encantado” por poder receber o Papa numa terra de “tolerância”.

“Debatemos a cooperação crescente, a consolidação do diálogo, a tolerância, a coexistência humana e as importantes iniciativas para obter paz, estabilidade e desenvolvimento para os povos e sociedades”, escreveu.

Encontro  inter-religioso sobre “Fraternidade humana”

“Documento sobre a fraternidade humana pela paz mundial e a convivência comum”

Assinado no dia 04/02 pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã de Al-Azhar, no final do Encontro, é um poderoso sinal de esperança para o futuro da humanidade.

Al-Azhar em conjunto com a Igreja Católica «declaram que adotam a cultura do diálogo como caminho e assinalam a injusta distribuição dos recursos naturais, que leva a morrer de fome milhões de crianças, reduzidas a esqueletos humanos, perante um silêncio internacional inaceitável”.

Condenam todas as práticas que ameaçam a vida como os genocídios, as ações terroristas, os deslocamentos forçados, o tráfico de órgãos humanos, o aborto e a eutanásia e as políticas que sustentam tudo isso.

Declaram que «a liberdade é um direito de cada pessoa: liberdade de credo, de pensamento, de expressão e de ação” para todos. Também os lugares de culto – templos, igrejas e mesquitas – devem ser garantidos e respeitados pelas autoridades.

Defendem o direito da mulher à educação, ao trabalho e ao exercício dos direitos políticos… E “deve ser libertada das pressões históricas e sociais contrárias aos princípios da própria fé e da própria dignidade”. E de “todas as práticas desumanas que a humilham e trabalhar para modificar as leis que impedem às mulheres de desfrutar plenamente de seus direitos».

Quanto às crianças, os dois líderes afirmam: «É preciso condenar toda a prática que viola a dignidade das crianças ou os seus direitos”: de crescerem num ambiente familiar, à alimentação e educação.

Al-Azhar e Igreja Católica acreditam que é possível, perante tantas divisões e fanatismos ideológicos, promover a cultura do encontro, construindo a paz e deixando às gerações futuras um mundo melhor do que aquele que vivemos hoje.

Hoje, dia 05, Francisco visita a Catedral de Abu Dhabi e preside à Missa no Zayed Sports City, com uma assembleia que deve superar as 130 mil pessoas.