A elite da Igreja

Fundação AIS lança livro para assinalar 70 anos de vida

D. José Aguirre © AIS

Por Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

Para assinalar os 70 anos do início da Obra, a Fundação AIS decidiu publicar um livro com 70 histórias publicadas no semanário do Patriarcado de Lisboa. São histórias de Cristãos que, um pouco por todo o mundo, são exemplo da Igreja perseguida. Todos eles conheceram a violência do ódio e da pobreza. Todos eles são exemplo para nós. Como dizia o fundador da AIS, os Cristãos perseguidos são a elite da Igreja. Cada um deles traz consigo uma Cruz Escondida…

Que têm em comum Akash, D. José Aguirre, a Irmã Guadalupe, o Padre Martin Baani, a Rebecca, o Padre Ernest e a Irmã Maria Goretti? As suas histórias, que foram publicadas no semanário diocesano do Patriarcado de Lisboa, estão incluídas num livro em que a Fundação AIS decidiu assinalar os 70 anos da Ajuda à Igreja que Sofre.

Akash é paquistanês. Tinha apenas 20 anos quando agarrou um bombista que se ia fazer explodir numa igreja em Youhanabad. Akash não impediu a explosão. Morreu ali, instantaneamente, mas evitou um massacre terrível. Morreu para salvar os outros. D. José Aguirre, Bispo de Bangassou, na República Centro-africana, também sabe o que é a violência extrema. E também ele não teve receio de arriscar a vida. Na sua diocese, quando os combates entre grupos rivais, os Seleka e os anti-Balaka, estavam mais extremados, avançou sozinho para junto de uma mesquita para evitar um banho de sangue.

O que têm em comum a irmã Maria Goretti e a irmã Guadalupe? Ambas viveram em países mergulhados em guerra, ambas procuraram, de mãos vazias, confortar os enfermos, ajudar as mães e os pais enlutados, ambas procuraram levar uma semente de esperança no meio do caos. A missão da irmã Maria Goretti levou-a até ao Sudão do Sul, o mais jovem país do mundo que praticamente nunca conheceu um dia de paz. A irmã Guadalupe estava em Alepo, na Síria, quando rebentou a guerra civil. E que dizer da experiência de Rebecca, uma mulher cristã escravizada pelo Boko Haram, na Nigéria? Raptada na aldeia onde vivia, Rebecca foi forçada a assistir à morte de um dos seus filhos e levada para o meio da floresta onde o grupo islamita estava aquartelado. Tudo o que sofreu nesses meses de horror estará sempre presente na sua memória até ao último dos seus dias, como uma ferida que teima em não sarar. Ela não quer mais lembrar o que lhe aconteceu mas não consegue esquecer os dias de ultraje, a violência e o horror que se abateram sobre si.

Iraque e Albânia

Martin Baani era um jovem seminarista que sonhava com o dia da sua ordenação sacerdotal quando, no Verão de 2014, os jihadistas do auto-proclamado “Estado Islâmico” irromperam pelo Iraque arrastando tudo em seu redor. Sem ninguém a defendê-los, os Cristãos foram forçados a fugir de suas casas para salvarem a própria vida. Martin estava em Karamlesh quando os jihadistas chegaram. Só teve tempo para salvar o Santíssimo da igreja. Fugiu apenas com a roupa que trazia vestida. Fugiu, tal como milhares de outros cristãos, para o norte do país, para o chamado Curdistão Iraquiano. Fugiu, mas continuou a sonhar. E foi já ordenado sacerdote. Os jihadistas nunca conseguiram afastar Martin Baani do essencial, tal como os guardas nunca conseguiram que o padre Ernest renunciasse à sua fé em Jesus. Preso na Albânia por mais de 11 mil dias, durante o regime comunista, o Padre Ernest transformou-se num símbolo de resistência, de coragem e de perdão perante os opressores que o obrigaram a trabalhar nas minas e nos esgotos e que o torturaram sem piedade. Que têm em comum Akash, D. José Aguirre, a Irmã Guadalupe, o Padre Martin Baani, a Rebecca, o Padre Ernest, ou a Irmã Maria Goretti? Todos eles fazem parte da “elite da Igreja” de que falava o Padre Werenfried van Straaten, o fundador da AIS. Todos eles trazem consigo uma Cruz Escondida.