D. Teodoro de Faria
Bispo Emérito do Funchal
Numa cidade, a Catedral significa o carácter público da presença da Igreja, sacramento da salvação de Jesus Cristo para todos os homens e mulheres. A inserção da Catedral na cidade, com a sua imponência exterior, não é uma manifestação da vontade de dominar, mas uma proposta de salvação que Deus oferece a todos os homens, de uma forma visível.
Sob o aspecto pastoral, o clero da Catedral, juntamente com o seu Bispo, deve assumir a responsabilidade de manter este património religioso à altura da missão para a qual foi construído, casa mãe de todo o povo de Deus, lugar de encontro da comunidade cristã na tríplice dimensão do seu sacerdócio baptismal.
A nossa Catedral tem cumprido esta missão, embora alguns dos nossos contemporâneos, insensíveis à dimensão cultual da vida cristã, só entendam este edifício como monumento cultural e principalmente dedicado a esta finalidade. Alguns deles, de facto, só entram na Catedral para ouvir concertos musicais ou admirar a pintura e a arquitetura.
A Igreja, ao preferir ao longo dos séculos lugares públicos de culto no centro das cidades humanas é porque sempre esteve convicta que a aventura da santidade, para a qual é chamado todo o homem, é uma aventura pública, no sentido de que esta santidade é oferecida em Cristo a cada pessoa, num lugar bem visível e com atos que são realizados publicamente.
Não se pode explicar o imenso poder simbólico e teológico das grandes catedrais europeias, nas quais incluo a nossa também, se as sociedades que as quiseram construir não tivessem o sentido desta presença luminosa antecipada do Reino de Deus dentro da cidade dos homens. É por isso que, hoje, este património espiritual não pode esvaziar-se no turismo cultural e na curiosidade dos artistas.
A Liturgia da Dedicação, como já referi outras vezes, mostra o significado materno e regenerador da catedral – ela é a fonte dos sacramentos, é o lugar privilegiado da oração quotidiana da Igreja, da pregação e da celebração eucarística do Bispo e do clero, o lugar do nascimento para a graça dos catecúmenos, da reconciliação dos pecadores, da confirmação na fé dos jovens.
É preciso tornar possível que o centro e polo da oração da diocese se manifeste plenamente na Catedral. No centro da cidade, onde a vida pulsa com mais vigor, é exatamente aqui que se deve encontrar a fonte da santidade do povo de Deus.
A Catedral é o coração da Diocese que, à semelhança do coração humano, recebe o sangue e distribui-o pelo corpo, a Catedral acolhe a todos na oração e depois a todos envia com o dinamismo do evangelho a anunciar Jesus Cristo e transformar o mundo dos homens.
O Concílio Vaticano II acentuou que a Igreja é, antes de tudo, um mistério. Para a compreender é preciso entrar no seu interior, fazer um ato de fé para que tudo se torne luminoso.
Vista por fora a Igreja parece um vitral daqueles que rasgam as paredes das grandes catedrais da Idade Média. Pelo exterior todo o vitral é negro e sem interesse, sujo, sem cor nem imagens, mas quando se entra no templo descobre-se a magia da luz, a espiritualidade nas cores e nas figuras que nos transportam para muito além, para o mundo das realidades invisíveis.
Precisamos hoje de descobrir a forma para suscitar nas pessoas descrentes o desejo de entrar, de abrir os olhos para ver outra luz. O caminho para a fé passa pelo sinal da Igreja que somos nós, e o caminho para Jesus Cristo pelo Evangelho vivido por nós no mundo.
Esta foi a missão dos bispos, pelos quais oramos, para que o Senhor lhes dê a sua Paz; esta é a missão que agora nos compete juntamente com os presbíteros que aqui exercem o seu ministério.
Que Maria, mãe de Deus e Porta do Céu, nos ajude a tornar esta catedral entrada e fonte de santificação do Povo de Deus.