Por país que os portugueses ensinaram a ler e escrever

P. Aires Gameiro na Catedral de Hanoi

Por Aires Gameiro

 

Foi agradável a digressão da revista “Boa Nova” pelo Vietnam, país ensinado a ler e escrever a sua língua por missionários portugueses.

Na cidade de Hoi An, a sul de Da Nang, o P. Francisco de Pina, jesuíta da Guarda, aprendeu, ensinou a escrever e usou a língua na evangelização por 1615. Em Hanoi, a catedral de S. José com imagem de N. S. de Fátima; e a da Imaculada Conceição, em Ho Chi Minh, refletem os 10% de católicos, em 95 milhões de habitantes.

Em Bien Hoa, orei com os Irmãos de S. João de Deus no túmulo do Irmão que estabeleceu a Ordem no Vietnam, o Venerável (beatificável) William Gagnon, canadiano. À sua volta dezenas de igrejas em contraste com o norte em que por 170 kms, de Hanoi à maravilhosa Baia de Há Long só avistámos uma igreja. Será que em Hanoi o corpo do grande general estratega Ho Chi Minh vencedor dos americanos, ajuda a manter o comunismo? De vida austera e celibatário, deu ordens para que o seu copo fosse queimado; não foi obedecido e agora devotos e curiosos não param de desfilar perante o seu corpo mumificado como nós fizemos.

Túmulo do venerável Guilherme Gagnon

Já mitigado o comunismo ainda mantém pulso forte. O nosso guia, em espanholês, teceu elogios à abertura à iniciativa privada com a bênção do partido, espécie de conselho da revolução do 25 de abril.

Agora o país cresce a 8% ao ano e leva os guias a orgulhar-se de que ocupa o terceiro lugar na produção de arroz e de café e dispõe de minérios e peixe. Nem falta a poluição de centenas de rios, praias e arrozais, pela indústria selvagem.

Um humorista na net, chama ao país “chourição de charcos” com 4 mil kms de costa e altas cordilheiras de montanhas. O passeio de mais de três horas por entre as belezas das cerca 2 mil ilhas do “dragão a entrar no mar”, na baia de Há Long, com almoço de mariscos, não contaminados, penso, e visita às grutas, agradou imenso; e não menos, por todo o lado, as milhares de motoretas, de condutor de máscara e mais três e quatro passageiros. Eram centenas pela direita, de frente, da esquerda em correrias incríveis e… sem acidentes!

A visita a Huè, capital até à unificação, em 1975, deixou impressões fortes de cidade proibida, com palácios imperiais de nobres prostrados perante o “deus” imperador de turno, sujeitos a perder a cabeça, como o guia carregava as tintas.

A visita ao Tumulo Real Tu Duc e o passeio pelo rio Perfume até a esta cidade muralhada deixou o desejo de que o único guia que sabia falar espanhol, respeitasse mais os programas nesta cidade e em Hoi Na e o outro em Saigão.

A mim ficou o desejo de visitar em Quang Tri o Santuário de Nossa Senhora de La Vang com aparições em 1789, mas não constava do programa. Deixou-me contente a visita a Hoi Na, berço da evangelização do Vietnam, e o Pagode de Thien Um, com monges budistas nas instalações anexas em ritos de refeição, oração, discurso do abade, devoção e submissão dos candidatos. Não chegarão a 10% (?) e pouco visíveis, ao lado dos 70% de ateus (comunistas?) seguidores de religiões ancestrais.

Chocante foi a visita ao museu da guerra em Saigão; as fotos de cenas de morte do napalm e gás sarín fazem arrepiar e reagir contra os Estados Unidos. E curiosa a feita ao campo militar de Cu Chi, na fronteira com o Camboja, com oficinas, armadilhas, camuflagens e subterrâneos em que gatinhámos como toupeiras, apesar de me quererem dissuadir por ser idoso. O corpo ainda lá não ficou e deu em risadas.

De lojas, mercados e compras nem é bom falar. Compra-se de tudo; ou, só com os olhos. Interessante foi ver o fabrico dos fios de seda a partir dos casulos, em Hoi An, ao lado da ponte japonesa coberta, e contemplar a destreza das artistas a bordar a fio de seda belos quadros de mil cores. Muito tentador para as carteiras das senhoras. De tanta coisa boa ficou o contraste entre o serviço excelente dos hotéis e das refeições e alguma insatisfação pelos três guias.

Surpreendeu a ausência de material turístico, folhetos, guias, álbuns, nas lojas e hotéis a indicar um turismo recente e talvez falta de literacia como se observa nos correios de Saigão: escribas escrevem cartas aos que não sabem. A chave de ouro do grupo foi uma celebração numa igreja de Saigão com imagem de Fátima; e para mim a visita à hospitalidade maravilhosa dos Irmãos de S. João de Deus, já conhecidos, (um deles até me entrevistou sobre o carisma da Ordem); e a terceira peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima da cidade de Ho Chi Minh onde rezei o terço e onde visitei a nova e monumental Igreja de uma beleza extraordinária, recém consagrada, a qual tinha ao lado um enorme cartaz a anunciar uma peregrinação à Cova da Iria.

Nova igreja do Santuário de Fátima em Saigão